Pode parecer contraditório, mas em uma economia recessiva como a que enfrentamos no momento no Brasil, os riscos envolvidos nas obras são relativamente menores se comparados aos de períodos de forte expansão do mercado da construção civil. Os riscos envolvendo custos surpreendem por sua redução.
“É o caso da mão de obra, hoje farta em decorrência das elevadas taxas de desemprego e, portanto, mais barata”, afirma o consultor em gestão de projetos, Fábio Vampel, completando: “Na área de suprimentos, é possível realizar melhores negociações obtendo preços reduzidos. O mesmo vale para a contratação de empresas de engenharia”.
Se, de um lado, ela restringe investimentos no projeto e torna os investidores mais exigentes quanto aos prazos, de outro, a recessão aumenta a chance de antecipação das etapas e de conclusão da obra. Há maior disponibilidade de toda a cadeia envolvida, encurtando prazos e diminuindo os custos.
O consultor exemplifica com a dificuldade vivida, em passado recente, por uma grande empreiteira em contratar engenheiros especialistas no uso de brita para a pavimentação de uma rodovia que passaria por áreas pantanosas, no Mato Grosso do Sul. “Naquele momento, situações semelhantes se reproduziam diariamente, estourando prazos e elevando custos”, lembra.
Em decorrência das elevadas taxas de desemprego, hoje há mão de obra farta e mais barata Fábio Vampel
Na atualidade, os riscos de atraso na entrega de materiais e equipamentos praticamente inexistem. “No boom das obras, fabricantes e prestadores de serviços se viram sobrecarregados, mas, agora, na recessão, chegam a entregar antecipadamente. A mesma empresa que atrasava ou sequer aceitava novos pedidos, agora está ociosa. E cria para o comprador o problema de onde armazenar, no canteiro, o que foi adquirido e que chegou antes da data prevista”, observa, salientando que a qualidade dos produtos também melhorou.
Vampel recomenda, porém, cuidados com a saúde econômico-financeira do fornecedor, um risco concreto hoje, que “exige uma avaliação criteriosa”, diz.
De acordo com o consultor, independentemente do momento econômico, a boa prática manda gerenciar riscos antecipadamente. “A maioria das construtoras trabalha tardiamente com a gestão de riscos, já na fase de execução, quando a obra foi iniciada, o canteiro está montado e as equipes mobilizadas. As empresas perdem, assim, o tempo certo de correção de falhas trazidas por riscos não desenhados previamente”, alerta Vampel.
No boom das obras, fabricantes e prestadores de serviços se viram sobrecarregados, mas, agora, na recessão, chegam a entregar antecipadamente Fábio Vampel
O ideal é a prática comum no exterior da gestão integrada de riscos desde a fase de viabilidade, prospecção de custos e do projeto conceitual. Nesses empreendimentos, a gestão de riscos vai tomando corpo, aumentando o grau de avaliação e o número de riscos identificados.
“Um bom exemplo é o de uma empresa, minha cliente, pertencente a um grupo multinacional petroquímico, sediada em Campinas/SP. O orçamento que a matriz repassa é muito limitado e, portanto, a empresa não aceita que custos e prazos ultrapassem nem mesmo a 1% do valor orçado – entre os brasileiros, é comum aceitar entre 5% e 10%. Por isso, iniciam a gestão de riscos um ano antes do início da execução”, relata.
Em qualquer cenário ou porte do projeto, os critérios a serem considerados são os mesmos. Há de se dar atenção especial ao levantamento de todas as licenças e autorizações governamentais de meio ambiente e de Corpo de Bombeiros – causas de grandes transtornos, se não forem bem controladas.
A avaliação de riscos deve contemplar prazo e orçamento do projeto. E, mesmo que o projeto se encontre ainda em fase inicial, o gerente de projetos deve se municiar do máximo possível de informações, mesmo que vá busca-las no mercado, para compor o cronograma.
“É o caso da incorporadora que ainda está licitando as empresas que vão atuar na obra, inclusive a construtora, mas contrata uma gerenciadora para detalhar o cronograma de execução e o orçamento do empreendimento. Quando todas as empresas forem contratadas, o gerente já terá em mãos as informações de escopo, prazo e custos, base para a melhor avaliação de riscos”, destaca, complementando que, quando a se iniciar, o sponsor terá total domínio do projeto.
Redação AECweb / Construmarket
Fábio Vampel – Engenheiro industrial pela Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes, com MBA Internacional em Administração de Projetos pela FIA-USP e pós-graduado em Engenharia Mecânica pela UNICAMP. Certificado PMP (Project Management Professional) do PMI e Black Belt (Six Sigma) pela M.I. Domenech.
Trabalhou na área de engenharia e automação da Rexroth-Bosch, em projetos industriais e de novos produtos na EW-Baxter, e na Suzano Petroquímica (atual Braskem) como responsável pela área de planejamento, onde conduziu a implementação de um PMO para os projetos de investimento de capital. É consultor na área de gestão de projetos.
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