Para gerentes de projetos, trabalhar com empreendimentos únicos pode ser bem diferente de trabalhar com muitos projetos repetitivos. Em geral de maior porte, os primeiros permitem ao gestor atuar com mais criatividade, propondo inovações construtivas e de materiais.
“Nesses casos, não há muitos parâmetros preestabelecidos, especialmente índices voltados a custos e tempo de execução das atividades”, observa a arquiteta Teresa Westphalen, fundadora da Focco Gestão de Projetos.
Já as obras com grande repetitividade se caracterizam por sua linha de processo comum a projetos repetitivos. “Para o gerenciamento é interessante porque as atividades do projeto são conhecidas pelos envolvidos, aprendidas em empreendimentos já realizados ou pela própria repetição em obras simultâneas”, diz a consultora. Veja outras diferenças a seguir.
Projetos repetitivos são mais assertivos
Falar de projetos repetitivos é falar de um processo mais assertivo, em que os riscos e os pontos fracos são conhecidos, dispensando decisões que envolvem estudos mais aprofundados, como sistemas construtivos de fundações, com custo elevado dentro da curva ABC da obra.
“Os riscos são calculados, além de conhecidas as situações em que os projetistas têm maior dificuldade. É um projeto que incorpora a repetição de sistemas, o que dispensa a criatividade – habilidade que se restringe à substituição estética de um material de revestimento por outro que seja tendência no momento”, analisa.
[Em projetos repetitivos], os riscos são calculados, além de conhecidas as situações em que os projetistas têm maior dificuldade. ” Teresa Westphalen
Em projetos com repetitividade da execução de alvenaria estrutural ou de vedação e das instalações, por exemplo, as construtoras costumam já ter seus índices mensurados e os padrões dos processos de construção estabelecidos.
O gerente de projetos interno ou terceirizado apenas atende aos parâmetros da construtora. “Assim, não interessa à empresa inovar muito porque deve-se seguir os custos de empreendimentos similares”, afirma. Desta maneira, o gerenciamento tem um viés administrativo e, quanto mais repetição, melhores os resultados do produto final.
Segundo Westphalen, quando os projetos com alto grau de repetitividade são produzidos pela mesma equipe, desde o arquiteto até os projetistas técnicos, é comum que as mudanças ocorram, por exemplo, apenas em relação ao térreo e subsolo, e a implantação da edificação no terreno.
“Gerenciei vários projetos que se repetiam, mas que tiveram diferentes profissionais atuando em cada um deles. É interessante constatar que, nessas situações, jamais teremos dois empreendimentos exatamente iguais. Até porque projeto é uma atividade intelectual e, consequentemente, tem muita análise subjetiva. Se o cliente final comparar unidades de apartamentos de empreendimentos que se repetem, certamente não verá diferenças. Um olhar mais técnico vai identificar os diferenciais nos encaminhamentos, seja de forro, laje ou demais instalações”, conta Westphalen. Só haverá projeto similar se o construtor mandar copiar literalmente, mudando apenas o local e o nome do edifício.
Processo mais desafiador e exigente
“Gerenciar projetos atípicos é um desafio, brilha o olho”, declara a arquiteta. Cada empreendimento envolve diferentes profissionais, inclusive os da equipe do sponsor. No caso de hospitais ou hotéis, cada um tem demandas e estratégias próprias. A gestão é um processo mais exigente e longo, e passa pela revisão do escopo de todas as disciplinas, repassando cada detalhe com o empreendedor.
“O gerenciador de projetos vai atuar junto aos vários stakeholders, ouvindo o proprietário do empreendimento e, também, o administrador que traz sua expectativa quanto ao desempenho da edificação na fase de operação e manutenção, com novos inputs para o projeto”, destaca.
Gerenciar projetos atípicos é um desafio, brilha o olho. ” Teresa Westphalen
O gerenciador pode errar se tratar o projeto único de maneira linear, como ocorre com os projetos repetitivos, e só vai perceber quando se defrontar com as interfaces que ‘alargam’ o processo. “É preciso olhar o projeto com uma lupa, principalmente para não sair do tempo planejado. Esse é o aspecto mais preocupante dos projetos únicos, porque as interfaces entre os projetos técnicos são muito complexas. Diferentemente dos projetos que se repetem, no inédito é preciso aprovar todos os conceitos, o que geralmente exige inúmeras revisões das propostas feitas pelos projetistas técnicos”, diz.
O projeto arquitetônico, por sua vez, se destaca como o grande diferencial do empreendimento, verdadeira assinatura do arquiteto. Para Westphalen, essa assinatura representa desafios para os projetistas, que devem viabilizar o desenho.
Qual tipo de projeto incorpora mais recursos tecnológicos?
Depende”, diz a arquiteta Teresa Westphalen, afinal, tecnologia pode ser um material ou sistema novo que os profissionais envolvidos com o projeto ainda não dominam, ou um processo mais rápido de execução. Nos projetos repetitivos, a tecnologia está na produção, representada por uma obra bem montada, com menos resíduos e perda de material, onde a fôrma de concretagem, por exemplo, é aproveitada inúmeras vezes. “Tudo voltado para o menor custo”, comenta. Já o projeto único trabalha com sistemas e materiais mais sofisticados, como estrutura metálica, e não cuidando tanto de práticas voltadas à produtividade. Ainda assim, nele há itens repetitivos que pedem maior produtividade. É o caso de obra de shopping centers, em que o forro e o piso devem ser contínuos, sem ondulações e desvios.
Redação AECweb / Construmarket
Colaboração técnica
Teresa Westphalen – arquiteta, formada em 1995 pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em Negócios Imobiliários e Marketing pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Atuou em diversas construtoras em São Paulo no cargo de coordenação de projetos.
Fundou a Focco Gestão de Projetos – Focco Projetos – onde desenvolve o escopo de gerenciamento de projetos, análise crítica e compatibilização de projetos para diversos clientes em território nacional.