A gestão de projetos em construções populares, que visam reduzir o déficit habitacional, é um trabalho em larga escala. Na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) são gerenciados em torno de 400 projetos por ano.
“A CDHU implementa projetos habitacionais em todo o estado, compreendendo novos projetos, revisões de projetos de obras em andamento e atualização dos projetos de edificação padrão. Essa gestão é complexa. Trabalhamos projetos urbanos e de arquitetura, compreendendo as características urbanas do município às variáveis físicas de cada intervenção”, afirma a arquiteta Irene Rizzo, responsável pela Gerência de Desenvolvimento de Produtos da CDHU.
Na CDHU, a superintendência de projetos é composta por sete gerências de projetos, cujo trabalho é dividido por regiões do Estado. Destas, seis atendem a uma determinada região – uma é responsável pela Baixada Santista, outra pelo interior com direção a oeste, e assim por diante.
“A gerência de Desenvolvimento de Produtos responde pelos projetos de edificações e empreendimentos na área central de São Paulo, onde o foco são os edifícios e não o projeto urbano”, diz.
Cada gestor de projeto conta com o apoio de empresas contratadas que dão suporte no desenvolvimento de projetos e na relação com as equipes de obras. Cada gerência de projetos tem contato direto com o andamento das obras e, para isso, realiza reuniões mensais com todos os envolvidos.
Todos os novos projetos da CDHU seguem o conceito do Desenho Universal. Nesse aspecto somos um modelo para o setor, mas sabemos que podemos avançar. Ainda não utilizamos energia fotovoltaica, mas estamos estudando como implantar Irene Borges Rizzo
Como é a gestão de projetos na CDHU?
O trabalho do gestor é anterior à concepção do empreendimento. O projeto tem de prever, além dos edifícios residenciais, locais para escolas, postos de saúde e áreas de preservação. Irene explica que a maioria dos conjuntos habitacionais utiliza projetos de edificação padrão da CDHU.
Isso só não ocorre se o local exige algo diferente. No centro de São Paulo tem pequenos lotes e cada edifício precisa de um desenho próprio. Outras vezes, o projeto é específico para determinada obra devido às características físicas do terreno a ser utilizado, como a alta declividade, por exemplo.
A produção dos projetos é feita por profissionais internos ou contratados. Em geral, a concepção é interna e, depois, o projeto pode ser desenvolvido externamente. Os projetos de Habitações de Interesse Social (HIS) têm suas peculiaridades e a companhia exige materiais e construção de qualidade com baixo custo.
“Esse é um processo difícil, tanto no que concerne à especificação de materiais como na concepção do próprio projeto. Muitas vezes o engenheiro apresenta uma solução correta para um projeto, mas ele poderia ter se dedicado a chegar a um custo menor, mantendo a mesma qualidade e segurança estrutural”, afirma.
Quais são as etapas da gestão projetos na CDHU?
O processo para a construção de conjuntos habitacionais tem início pelo levantamento das condições urbanas que vão determinar a escolha dos terrenos. Depois, a gerência de projetos responsável pela região faz visitas aos locais e inicia a relação com os órgãos de infraestrutura da região, como as concessionárias de saneamento e de energia para definição das diretrizes para desenvolvimento do projeto.
A arquiteta explica que a CDHU adota o sistema de projeto padrão devido à necessidade de produzir habitações em escala. Em linhas gerais, a implantação do projeto é feita pelas prefeituras ou construtoras e, às vezes, por mutirões, sob a gestão e fiscalização da CDHU.
O desenvolvimento de cada projeto é caracterizado por fases e produtos definidos no plano de trabalho. “A companhia tem metodologia própria de elaboração de projeto e cada fase a ser observada consta do cronograma”, diz. Cada gestor de projeto pode tomar decisões, às quais devem ser comunicadas ao gerente da área específica.
“Minha área, aqui em São Paulo, faz o controle geral de todos os projetos sob sua responsabilidade e do andamento das obras a partir das informações de cada gestor. Além disso, distribui o trabalho para os engenheiros de hidráulica, de infraestrutura, enfim para cada área com a programação definida”, explica.
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Desafios para gestores
Muitas vezes o engenheiro apresenta uma solução correta para um projeto, mas ele poderia ter se dedicado a chegar a um custo menor, mantendo a mesma qualidade e segurança estrutural Irene Borges Rizzo
Irene Rizzo informa que existem projetos que andam normalmente, e outros que apresentam demandas durante a execução da obra. Sempre tem algo inesperado, que requer alterações no projeto original.
“O construtor da obra, por exemplo, pode sugerir alterações e elas precisam ser analisadas pelo gestor para serem aprovadas ou não. Como a CDHU tem milhares de projetos, esse tipo de demanda é muito grande, ampliando o volume de trabalho dos gestores”, comenta.
Para Irene, a gestão de projetos é uma atividade muito complexa e a CDHU precisa estar atenta à necessidade de renovação dos quadros e à formação de novos profissionais.
“Temos que caminhar muito ainda nesse trabalho, há necessidade de aprimoramento. Em pouco tempo a empresa pode não estar preparada para atender à demanda da produção. Nosso quadro é formado por profissionais de idade avançada e precisamos formar novos grupos de gestores e técnicos para não comprometer o trabalho da companhia no futuro”, diz.
Ela comenta que a formação de novos profissionais é importante para que seja possível dar continuidade ao trabalho realizado hoje.
“As empresas do Estado devem servir de modelo, e a CDHU tem sido, em alguns aspectos”, diz. Segundo informa, os projetos de habitações horizontais e verticais com até cinco pavimentos têm aquecimento de água com energia solar, visando a redução do consumo de energia. Além disso, todos os novos projetos da CDHU seguem o conceito do Desenho Universal, que garante mobilidade para os usuários dentro e fora das unidades.
“Sob estes aspectos, somos um modelo para o setor, mas sabemos que podemos avançar. Ainda não utilizamos, por exemplo, a energia fotovoltaica, mas estamos estudando como implantar”, conclui.
Redação AECweb / Construmarket
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COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA
Irene Borges Rizzo – Arquiteta e Urbanista graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Trabalha na área de projetos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) desde 1976. Atualmente, é a responsável pela gestão da Gerência de Desenvolvimento de Produtos da CDHU.