Quanto mais ampla e complexa for a edificação projetada, mais o gestor terá de lidar com projetos multidisciplinares. Os exemplos vão desde os edifícios residenciais de alto padrão que pedem projetos complementares de conforto acústico ou de automação, até obras de usos específicos que embarcam tecnologias apropriadas às áreas a que se destinam.
“É o caso dos projetos de hospitais e hotéis, nos quais há particularidades que demandam conhecimentos muito detalhados das disciplinas envolvidas”, diz o engenheiro José Luiz Campanholo, diretor da JL Campanholo, consultoria especializada em coordenação de projetos.
A dinâmica de aprimoramento das disciplinas e dos produtos é constante. “É praticamente impossível que o gerente de projetos conheça todas as demandas e soluções. Daí a necessidade de contar com a ajuda do fornecedor e de consultores especializados”, observa Campanholo.
Ele defende que a coordenação de projetos deve estar focada na execução, com a participação dos fornecedores ainda na fase do projeto executivo e utilizando o conceito da Integrated Project Delivery (IPD) com o uso da plataforma BIM. “Os fornecedores têm as informações de projeto, custos e estão extremamente atualizados”, observa.
O gerente de projetos precisa fazer uma análise crítica do que vem da arquitetura e dos projetos complementares, envolver o cliente e os fornecedores. ” José Luiz Campanholo
Construção de hospitais
A construção de hospitais, por exemplo, exige projetos multidisciplinares de proteção radiológica e de geradores. A escolha por geradores a gás – que têm vida útil e custo inicial superiores aos dos geradores movidos a diesel –, é decidida por meio de um estudo de viabilidade financeira, espaço físico para acomodar os equipamentos, sua operação e manutenção.
“Quando se acopla o tanque de diesel na base do gerador, muda radicalmente o projeto. Envolve cálculo de demanda de óleo diesel para definir o número de tanques e o espaço físico a ser reservado – até porque, agora, é proibido enterrar os tanques. Mudanças nas leis ambientais, como essa, fazem parte do dia a dia dos fornecedores”, afirma.
Em projetos multidisciplinares, o gerente de projetos acaba atuando, inclusive, na identificação de soluções de menor custo, mesmo quando tudo já foi especificado no projeto.
“Foi possível, por exemplo, reduzir os custos ao rever as dimensões dos painéis de vidros blindados importados para proteção radiológica no hospital”, relata. Além dos fornecedores, é interessante contar também com a colaboração dos consultores especializados, como no caso dos vidros e de fachadas.
De acordo com o engenheiro, por mais que o projetista de vidros tenha domínio técnico, há um momento em que o especialista ou o fabricante da caixilharia será fundamental para o projeto da fachada.
“Portanto, o conhecimento que o gerente de projetos tem da cadeia construtiva pode gerar tanto demandas de projeto, sugerindo alterações, como também de redução de custos”, complementa.
O papel do coordenador de projetos é, também, fazer uma análise sistêmica de viabilidade, não somente sob o ponto de vista da arquitetura, mas também da execução da estrutura e suas interfaces, gerando análise de custos antecipada. ” José Luiz Campanholo
Descompasso nos projetos multidisciplinares
Campanholo destaca que a falta de informações nos projetos multidisciplinares é corriqueira e resulta na geração de custos adicionais. “Pode acontecer de o projetista ter utilizado uma biblioteca do produto ou sistema totalmente desatualizada”, avalia.
No caso dos elevadores, é preciso que estejam especificados o pé-direito e as caixas para definir se será feita a regeneração (economia de energia). Assim como nas vedações, cujo projeto deve detalhar as paredes de drywall, as espessuras e o isolamento acústico.
“O papel do coordenador de projetos é, também, fazer uma análise sistêmica de viabilidade, não somente sob o ponto de vista da arquitetura, mas também da execução da estrutura e suas interfaces, gerando análise de custos antecipada”, ensina.
Também é importante que os gerentes de projetos ouçam os usuários. “Em projetos de hospitais, os médicos devem participar de todas as decisões, da posição ideal do sistema de abertura da água para lavar as mãos à abertura das portas e sua melhor tipologia, passando pelos pontos elétricos”, ressalta.
Esses conhecimentos devem se esgotar ainda na fase do projeto executivo, o que vai ocorrer sempre que contar com a consultoria do cliente, especialista no assunto – quer seja de um hospital, um hotel ou uma hidrelétrica.
Porém, é comum que vários elementos tenham de ser resolvidos pelo gerente de projetos. “O profissional precisa fazer uma análise crítica do que vem da arquitetura e dos projetos complementares, envolver o cliente e os fornecedores”, recomenda.
Redação AECweb / Construmarket
Colaboração técnica
José Luiz Campanholo – Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Paraná (1981), com pós-graduações em Gerenciamento de Obras (UTFPr) e Planejamento e Gestão de Negócios (FAE Pr). Sua experiência profissional está ligada à execução de obras e coordenação de projetos na Construtora Baggio, por mais de 25 anos. Desde 2013 é diretor executivo da JL Campanholo – empresa de consultoria na gestão de custos, estudos de viabilidade, orçamentos de obras em BIM, Integrated Project Delivery (IPD) e coordenação de projetos.