De acordo com o engenheiro Eduardo Borges, sócio-diretor da RFA Engenharia, os projetos de aeroportos são mais complexos por envolverem muitas disciplinas. Algumas ‘puxam’ o projeto e outras o complementam. Geometria, terraplanagem, pavimentação, arquitetura e urbanismo são as disciplinas que definem o projeto. Em seguida vêm as complementares, mais específicas, que são a drenagem, elétrica, eletrônica, telemática, hidráulica e auxílio da navegação. “Essas não direcionam o projeto, mas vêm a reboque das outras disciplinas maiores”, diz.

É importante salientar, segundo Borges, que, atualmente, há uma preocupação muito grande com o meio ambiente, o que não acontecia há tempos. “O processo inteiro, desde quando começa o projeto até a parte de entrega, é norteado pela atenção à proteção ambiental. Não dá para dizer que é uma disciplina, pois o assunto não chega a gerar um projeto. Mas todas as áreas estão sendo alteradas para se adaptarem às exigências ambientais”, comenta. Para o tratamento de águas pluviais, por exemplo, é preciso pensar logo no início do projeto em como captar a água da chuva contaminada com óleo de aeronaves e caminhões para tratamento posterior.

O processo inteiro, desde quando começa o projeto até a parte de entrega, é norteado pela atenção à proteção ambiental. Não dá para dizer que é uma disciplina, pois o assunto não chega a gerar um projeto. Mas todas as áreas estão sendo alteradas para se adaptarem às exigências ambientais Eduardo Borges 

 

GESTÃO ESPECÍFICA

A gestão de projetos de obras de aeroportos se depara com a abrangência superior dos projetos, quando comparados aos de empreendimentos convencionais. No projeto de um aeroporto, estão presentes todas as disciplinas gerais de um empreendimento civil, que são os sistemas pensados para atender as necessidades dos passageiros. “Mas, associado a eles, há uma infraestrutura muito complexa, que é o lado aéreo do aeroporto, a preocupação com as aeronaves. Um elemento à parte, ao qual a engenharia civil não está acostumada”, explica Borges.

Enquanto a grande preocupação do gestor de projetos de empreendimentos residenciais e comerciais é a obra, no caso de aeroportos é preciso atentar também à operação. Até porque, a maioria das obras é realizada com o local em funcionamento. São obras de ampliação de pistas e de capacidade. “Recentemente houve um aumento do número de implantação de aeroportos, mas isso não é comum, porque o aeroporto é um equipamento de vida útil longa. Depois de construído, já começa a operar, não sendo possível paralisá-lo para fazer reformas”, observa o engenheiro.

Borges exemplifica com a construção da segunda pista prevista para o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, São Paulo, que terá toda a estrutura de um equipamento novo. “Só que não é possível desconsiderar a atividade atual. O projeto precisa ser feito pensando em como fazer as mudanças necessárias sem afetar o funcionamento. Como são obras de grande porte, que demandam muito investimento, geralmente, são feitas aos poucos, em fases”, afirma.

GESTÃO EXIGE EXPERIÊNCIA

De acordo com o engenheiro, todas as disciplinas que participam do projeto geral do aeroporto exigem dos projetistas alguma experiência com esse tipo de obra. Mesmo que seja uma disciplina complementar, o técnico precisa saber o que acontece no aeroporto para ter uma boa atuação. “Geometria, arquitetura e urbanismo, pavimentação e auxílio da navegação são as quatro disciplinas que exigem especialistas no tema, caso contrário a obra não sai”, alerta. Para as demais, os projetistas podem ter uma capacitação básica desse tipo de empreendimento para realizar o trabalho.

“Por exemplo, drenagem e terraplanagem, apesar de serem realizadas para um aeroporto, compartilham muito dos princípios de qualquer outro empreendimento. Sabendo um pouco sobre o funcionamento e a operação do aeroporto, o profissional consegue desenvolver bem a tarefa, mesmo sem ter muita especialização”, pondera. Já o gestor de projetos precisa ter conhecimento e experiência na área. “O aeroporto é um sistema muito específico, com muitos interessados envolvidos. A gestão de todos os projetos depende de conhecer como ele funciona e o que deve ser prioridade em cada momento”, orienta Borges.

O aeroporto é um sistema muito específico, com muitos interessados envolvidos. A gestão de todos os projetos depende de conhecer como ele funciona e o que deve ser prioridade em cada momento Eduardo Borges

 

DIFICULDADES

Por isso, a principal dificuldade encontrada na gestão de projeto de aeroportos é a falta de profissionais capacitados. “É um sistema que tem muitas interfaces entre as disciplinas e entre as disciplinas e as operações”, afirma o engenheiro, contando que são poucas as universidades que dedicam e focam os cursos em estrutura de transporte. Diante disso, é comum que as empresas de engenharia selecionem profissionais crus do mercado e os capacite. “Recentemente, tivemos de fazer isso. Houve uma demanda muito grande e não tínhamos profissionais suficientes na equipe para atender a todas. Foi preciso contratar novos profissionais que, mesmo com ótimos currículos, careciam de formação em aeroportos. Selecionamos e depois treinamos”, relata.

Para Borges, administrar o grande número de pessoas e interessados envolvidos no projeto de um aeroporto e saber tratá-los não é tarefa fácil. Gera uma complexidade a mais para o gestor de projetos. “É um sistema de transporte muito valioso e visado, tanto nacional como local. Há uma influência muito grande da sociedade, Prefeitura, Governo do Estado, associação de bairros, órgãos regulamentadores, Secretaria da Aviação Civil. Todos preocupados com o que está acontecendo. Sempre que possível, é preciso atender a todos, sendo fundamental ter uma boa interface com os interessados”, ensina.

É função do gestor de projetos garantir a qualidade e a segurança, quesitos imprescindíveis em aeroportos. “São os fatores mais importantes e que garantem o cumprimento das normas. Se formos olhar a regulamentação da ANAC – Agência Nacional da Aviação Civil –, e as internacionais, todas elas têm uma preocupação muito grande com a segurança. Os operadores, as companhias aéreas e os controladores de tráfego atuam para garantir segurança e qualidade. Mas grande parte da segurança encontrada em aeroportos deve vir do projeto. O operador tem muito mais condições de oferecer qualidade e segurança para a aeronave e os passageiros se isso já tiver sido considerado no projeto. Ação preventiva na fase de planejamento é muito mais efetiva que a mitigação, depois, com itens operacionais”, declara o engenheiro.


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Redação AECweb / Construmarket


Colaborou para esta matéria

Eduardo Borges – Formado em Engenharia Civil Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica onde é especializado em projetos aeroportuários. Atuou diretamente na elaboração de projetos de aeroportos, desenvolvendo projetos das disciplinas de geometria e pavimentação aeroportuária.

Foi consultor técnico para a concessão do Aeroporto do Galeão e coordenador de projetos para elaboração de mais de 70 estudos de viabilidade técnica e estudos preliminares em diversos aeroportos do país. Hoje é sócio-diretor da RFA Engenharia, junto a outros dois amigos. Atua como gerente de projetos, coordenando equipes multidisciplinares nas diversas áreas do ramo aeroportuário.

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