Em sua sexta edição, o Programa de Desenvolvimento Gerencial para Empresas de Projeto (PDGEP), também conhecido como Soluções para Empresas de Projeto, já auxiliou dezenas de escritórios a corrigir falhas de organização interna, que podem comprometer a qualidade dos projetos entregues a construtoras e incorporadoras.
O programa, criado em 2006 pela linha de pesquisa em Gestão de Projetos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), sob a coordenação do professor e engenheiro Silvio Melhado, atende escritórios de diferentes áreas de atuação. “Priorizamos os pequenos escritórios, aqueles com faturamento anual abaixo de R$ 1 milhão, que constituem em torno de 85% do mercado de projetos”, diz Melhado.
De acordo com professor, o PDGEP tem caráter cooperativo, ou seja, empresas voluntárias e universidade têm objetivos em comum, por meio da aplicação de um modelo de gestão.
“De um lado, temos acesso a dados dessas empresas, em geral muito informais, para realização de nossas pesquisas. Para as empresas, funciona como um programa de extensão, porque a universidade lhes transfere conhecimentos”, explica.
O PDGEP se divide em módulos, e todos eles têm um conteúdo a ser aplicado na prática. Os conteúdos discutidos são voltados para a melhoria dos processos de cada empresa, motivação das equipes, aproveitamento do potencial profissional de engenheiros e arquitetos e criação de perspectivas para o colaborador da equipe de projeto. Os profissionais saem dos encontros com algumas tarefas a executar, aplicando os conceitos no dia a dia da empresa.
De um lado, temos acesso a dados dessas empresas, em geral muito informais, para realização de nossas pesquisas. Para as empresas funciona como um programa de extensão, porque a universidade lhes transfere conhecimentosSilvio Melhado
A implantação do programa de gestão aumenta a visibilidade das empresas no mercado, devido ao investimento na organização interna e, consequentemente, à melhoria dos serviços e inovações oferecidos.
“Inclusive, do ponto de vista de responsabilidade social, porque o setor de projetos é campeão no não atendimento a questões trabalhistas e padrões de remuneração dignos. É comum que as pessoas que trabalham nessas empresas sejam remuneradas abaixo do piso salarial, sem contrato, garantias e treinamento”, revela o professor.
Focando também em gestão de pessoas, o PDGEP procura mostrar que não é possível melhorar o desempenho remunerando mal os colaboradores e baixando o preço dos projetos, imaginando que isso vai torná-los mais competitivos.
“Essa prática gera efeito contrário, com perda de qualidade e desvalorização dos projetos”, alerta o docente. Investir em formação continuada da equipe também é uma prática estimulada, de forma a aumentar a qualidade do trabalho dos profissionais de projeto.
Entre as falhas de organização interna identificadas pelo PDGEP, está a falta de controle sobre o número de horas investidas em cada atividade, o que leva as empresas a gastar muito mais tempo do que o necessário.
“Falta planejamento para que usem melhor o tempo. Nosso trabalho vai no sentido de quebrar esse círculo vicioso, de forma que a empresa atue bem e possa oferecer ao cliente o bom projeto que contratou”, esclarece o engenheiro.
Acompanhadas ao longo dos anos pela equipe da Poli, as empresas que realizaram o que foi proposto pelo PDGEP têm obtido resultados positivos, até mesmo em crescimento e melhoria do desempenho da qualidade dos projetos. “Tem um caso interessante de uma empresa de projeto acústico que conseguiu resolver o seu ciclo de projeto de maneira impressionante, reformulando processos, usando softwares, investindo em pessoas.
“Se não souber contratar, a empresa pode ter resultados bastante negativos no custo, na qualidade, no prazo das obras e no produto final, a ponto de inviabilizar empreendimentos mais complexos, diz Silvio Melhado.
É muito comum construtoras desconhecerem o perfil, o histórico e as práticas de organização interna das empresas projetistas que contratam para seus empreendimentos. Muitas vezes, sequer sabem o endereço ou quem efetivamente projeta, se é um estagiário ou um profissional qualificado e bem remunerado.
“Quando perguntamos aos contratantes, numa palestra ou workshop, se eles conhecem os projetistas contratados, a reação é de espanto e pânico. Porque, muitas vezes, estão contratando verdadeiras caixas pretas”, relata Melhado, da Poli-USP.
Contudo, cada vez mais torna-se indispensável considerar a gestão interna como critério para a seleção da empresa de projeto, e três novas demandas reforçam isso: a norma de desempenho ABNT NBR 15575; os requisitos de sustentabilidade por exigência de certificações ambientais ou do contrato; e a modelagem da informação da construção, o BIM.
Esses fatores geram necessidade de revisão de processos nas empresas de projeto. “No caso do BIM, observamos que o detalhamento está regredindo e se tornando pior do que era com o CAD. Não é a modelagem que leva a isso, mas a falta de capacitação das equipes das empresas de projeto.
Muitas delas estão se tornando defasadas, não atendem a todas ou a uma das novas demandas. Se não se modernizarem, dentro de algum tempo não terão mercado”, ressalta.
Diante das novas demandas, o contratante precisa ter garantias de que o projeto terá um bom desempenho. Caso contrate mal, está arriscado a ter projetos que não atendem normas técnicas.
Alguns efeitos possíveis da má contratação vão da responsabilização legal do incorporador pelo não atendimento às normas e dificuldades que a obra enfrentará ao passar por auditoria de certificação ambiental até, numa iniciativa de utilizar o BIM, vir a ter resultados piores do que com o CAD.
“Se não souber contratar, a empresa pode ter resultados bastante negativos no custo, na qualidade, no prazo das obras e no produto final, a ponto de inviabilizar empreendimentos mais complexos”, alerta Melhado.
Redação AECweb / Construmarket
Silvio B. Melhado – Engenheiro Civil pela Universidade de São Paulo (USP), cursou mestrado e doutorado em Engenharia Civil pela USP, além de ter realizado pós-doutorado na França, no Canadá e na Inglaterra. Atualmente é livre-docente e Professor Associado da USP.
Tem experiência na área de Engenharia de Construção Civil, com ênfase em construção de edifícios, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão do processo de projeto, gestão de empresas de projeto, gestão da qualidade, sistemas de gestão e certificação de sistemas.
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