Prazo, qualidade e escopo em projetos industriais

Na indústria, o montante financeiro é elevado e existem muitos riscos associados aos processos construtivos.
sombra de trabalhadores carregando barras de metal com um guindaste atrás

De acordo com Abla Maria Proência Akkari, engenheira civil e professora do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), de acordo com o conceito do PMBOK – Project Management Body of Knowledge –, cada projeto é único, independentemente da tipologia, e tem um ciclo definido, com início e fim. Por mais que exista um modelo igual de planta de fábrica ou de indústria, ela vai estar em local diferente e, portanto, terá a especificidade daquela localidade.

“O que diferencia uma obra industrial são os riscos e os custos. Na indústria, o montante financeiro é elevado e existem muitos riscos associados aos processos construtivos. Em contratos de obras industriais é comum a construtora ter de pagar multa diária caso atrase a entrega. Já quando se trata de um prédio residencial, o prazo é mais flexível. Em contratos de compra e venda de imóveis na planta as construtoras geralmente acrescentam uma cláusula que permite atrasos de até 180 dias para a entrega das chaves”, explica a professora.

PROJETO ARQUITETÔNICO

O projeto arquitetônico é onde está o maior risco e gargalo do gerenciamento de projetos. No Brasil, segundo Akkari, há o costume de começar um empreendimento sem ter o projeto arquitetônico bem determinado. “Ao dar a entrada na prefeitura com um projeto preliminar, a construtora receberá o alvará para construção. O que acontece é que muitas empresas começam a construir sem ter o projeto executivo concluído, no qual, normalmente, muitas mudanças terão sido feitas. Então será necessário alterar o escopo. As mudanças de escopo interferem diretamente no prazo e no custo. Por exemplo, ao comprar uma cerâmica que é antiderrapante ao invés da normal, há uma alteração no custo e no prazo. O prazo para fazer uma cerâmica antiderrapante é diferente das convencionais”.

Homem desenhando um canteiro de obras com guindastes em 3D

Na indústria, o montante financeiro é elevado e existem muitos riscos associados aos processos construtivos. Em contratos de projetos industriais é comum a construtora ter de pagar multa diária, caso atrase a entrega. Já quando se trata de um prédio residencial, o prazo é mais flexível Abla Akkari

Esses fatores precisam ser tratados no gerenciamento de projeto. São desvios que devem ser registrados e merecem ações corretivas. “A principal ação do gerenciamento de projeto é a ação corretiva. O gestor precisa garantir que as nove áreas de conhecimento estejam controladas e que sejam tomadas ações para manter o objetivo do seu empreendimento, que é o cumprimento do prazo, do custo e da qualidade”, ressalta a engenheira.

TENDÊNCIAS: SOFTWARE BIM

Atualmente é comum os gestores fazerem a compatibilização de projetos e o uso de softwares BIM – Building Information Modeling. Segundo a professora, esse recurso facilita, e muito, o trabalho de gestão. Permite que os profissionais enxerguem no projeto arquitetônico de indústrias, principalmente, gargalos de entradas e saídas. “Existem alguns projetos industriais em que o gestor, ao ver a planta no 3D, por exemplo, para definir o plano de ataque, consegue perceber a impossibilidade de seguir determinada frente que estava traçada, ou que da forma que estava planejado gerará um custo maior, optando por novos caminhos. O BIM tem ajudado muito a visualizar essas interfaces, principalmente em projetos industriais”, diz a professora.

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OBRAS MAIS RÁPIDAS

De acordo com ela, a construção de uma indústria tende a ser mais rápida do que de um edifício residencial, por exemplo. “Na indústria, usamos muito pré-moldado no fechamento lateral e drywall na parte interna”, destaca. Se, de um lado, a concepção leva mais tempo, de outro, há maior agilidade construtiva. Desde edifícios baixos – térreo e mais três andares, que são as obras populares – até prédios de 30, 40 andares, o ciclo de construção vertical é mais demorado. “Em uma obra industrial é possível atuar com várias frentes de ataque, desde que os equipamentos possam ser montados sem interferência de área. É como se fossem vários andares em um único plano”, comenta.

Prazo, qualidade e escopo, além da mão de obra especializada, são as principais questões a serem consideradas em gestão de projetos industriais Abla Akkari

Plataforma para gerenciamento de obras civis

Para a engenheira, um dos pontos que diferenciam a gestão de projetos de indústrias das demais obras da Construção Civil é que as reuniões de acompanhamento – follow up meeting – são semanais. “Nas reuniões, os indicadores do projeto são avaliados e acompanhados, e quando necessário, são feitas as ações corretivas”, reforça, lembrando que a velocidade dessas obras envolve mais mão de obra, com um grande número de empreiteiras atuando em curto período de tempo. “Por isso, é preciso que o controle durante a obra seja maior e mais intenso”, ensina.

Redação AECweb / Construmarket


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STAKEHOLDERS

Os stakeholders em obras industriais são, principalmente, os investidores e os empreiteiros. As indústrias são construídas em áreas afastadas dos centros urbanos, mais isoladas, o que evita desconfortos com a vizinhança. Normalmente, não há muito trabalho com os vizinhos. Já com os investidores e empreiteiros é preciso ficar atento aos prazos, multas e penalidades de contrato, que em geral são bem altas. Um atraso na construção industrial acaba gerando multas que correspondem a dias da indústria funcionando. “Prazo, qualidade e escopo, além da mão de obra especializada, são as principais questões a serem consideradas em gestão de projetos de indústrias”, comenta Akkari.

Colaborou para esta matéria:

Abla Maria Proência Akkari – Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e mestrado em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professora do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica (POLI-USP) e do MBA UNIFACS.

Também é diretora das empresas: Akkari & Costa Consultoria em Planejamento Ltda. e Akkari & Costa Consultoria e Gerenciamento em Engenharia Ltda.

Tem experiência na área de Gerenciamento de Projetos (foco maior em prazo, custo e risco), Engenharia de Produção, com ênfase em planejamento, projeto e controle de sistemas de produção, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento, custo, risco, msproject, durações de atividades, informatização e informática; planejamento.

Possui mais de 500 projetos acompanhados durante o ciclo de vida de concepção e implantação.

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