Houve um tempo em que qualquer alteração em um dos muitos projetos de uma obra obrigava a uma verdadeira operação logística para que todos os atores do processo se atualizassem. Com a internet, a comunicação acontece em tempo real, facilitando o cotidiano do coordenador de projetos e assegurando que não haverá erros no canteiro.
O arquiteto Rafael Lublo, gerente de Projetos da catarinense Klokplan Engenharia, ressalta que um empreendimento pode ter um bom escopo de trabalho e cronograma definido. Mas o segredo do sucesso é a comunicação precisa entre projetistas e a construtora.
Em entrevista ao AECweb, Lublo traça um perfil do gestor e comenta que é essencial uma boa formação, mas principalmente ter facilidade de relacionamento com os demais atores do processo de produção.
Hoje é mais fácil coordenar os muitos projetos de uma obra?
Rafael Lublo – Sim, porque temos à disposição softwares e depositórios virtuais de arquivos que tornam a comunicação muito mais fácil entre todos os intervenientes – projetistas, a empresa e o canteiro de obras. Aplicamos em nossa prática diária os três conceitos da metodologia norte-americana PMBOK, de gerenciamento de projetos.
Tudo começa com o desenvolvimento de um bom escopo de trabalho, elencando todas as fases do projeto, o que permite planejar o tempo para a execução. O segredo do gerenciamento de sucesso é a comunicação entre os diversos atores do processo.
Aqui na empresa, utilizamos o Construmanager como depositório virtual de arquivos, mantendo a versão sempre atualizada dos projetos entre as equipes, a coordenação e o canteiro, que também tem acesso a essa ferramenta virtual de trabalho. O resto da comunicação vem por e-mail e telefone o dia todo.
Se no passado a atualização dos projetos era uma tarefa de logística, hoje há um número bem maior de projetos?
Lublo – Há uma complexidade maior de projetos, principalmente na área ambiental. A intensa fiscalização feita pelos órgãos ambientais em nossos empreendimentos nos leva a desenvolver mais e melhor os projetos complementares.
Assim, o projeto urbanístico está muito mais detalhado, assim como o de sistemas de drenagem e abastecimento de água, com tecnologias novas; o projeto preventivo contra incêndio está muito mais fiscalizado; e os projetos de elétrica evoluíram muito.
A comunicação facilitada nos permite responder a exigência dos órgãos públicos de conhecer e utilizar novas tecnologias, ferramentas e sistemas voltados para a sustentabilidade, economia e otimização de material, e de mão de obra.
Quais são as principais demandas do Ministério Público?
Lublo – O Ministério Público (MP) está presente, principalmente, na fiscalização ambiental do empreendimento, que pode envolver ainda o Departamento Estadual do Meio Ambiente e o IBAMA. Como trabalhamos com a criação de grandes condomínios – loteamento e construção -, precisamos de grandes glebas, que têm vegetação em cima, impactam a vizinhança em função da grande ocupação urbana e geram esgoto que devemos tratar.
O MP fiscaliza o corte da vegetação, a movimentação de terra e o tratamento de esgoto. Nós prestamos conta desses procedimentos o tempo todo. Devemos ter licença ambiental das várias etapas, desde as instalações até as operações.
Diante dessas exigências, qual é o desafio para um coordenador de projetos?
Lublo – O maior desafio na minha função é a comunicação, o que exige ter uma boa e abrangente ferramenta que envolva todos os projetos de um empreendimento.
Hoje, a comunicação é feita com o uso das ferramentas virtuais e mantendo contato permanente. Metodologias, conceitos e técnicas nós adquirimos na formação acadêmica, no MBA, na internet e na prática diária, mas a comunicação é um objetivo mais difícil de ser alcançado, e é o que define o sucesso do projeto.
Você já viveu situação em que a falta de comunicação acarretou grande transtorno para uma obra?
Lublo – Houve um problema, inclusive comum em outras empresas, em que o projeto arquitetônico foi substituído na prefeitura e enviado para o canteiro.
Mas, como ainda não usávamos o Construmanager, o projeto hidrosanitário não ficou sabendo dessa alteração. Durante a execução, constatou-se que não estavam previstas as tubulações do empreendimento. Um grave erro por falta de comunicação.
Do ponto de vista de formação, qual o perfil do gestor de projetos?
Lublo – Observo que, cada vez mais, o gerente de projetos tem vindo da área de ciências humanas. Em geral, temos mais arquitetos com especialização – pós-graduação e MBA – em Gestão de Pessoas, inclusive com grande oferta de cursos no mercado.
O perfil desse profissional é de alguém com boa capacidade de relacionamento, com habilidade para resolver situações e tomar decisões, e ter muito jogo de cintura. No cotidiano, integramos equipes dos mais variados tipos de projetos; dialogamos com o canteiro de obras e, ao mesmo tempo, com os órgãos públicos.
O que fazer com um interlocutor intransigente?
Lublo – São casos raros e isolados. Tive um único problema com um projetista, a quem chamei para atuar em dois outros empreendimentos porque ele era bastante especializado e com pouca concorrência.
Porém, as dificuldades se repetiam. Pesquisei junto a outras empresas e confirmei que todos tinham episódios de relacionamento com esse profissional.
Chegou a um ponto que não deu mais, ele era intransigente mesmo. Minha recomendação aos projetistas é de que mantenham um bom relacionamento a empresa, caso contrário não vão se inserir no mercado.
A Klokplan tem obras desde o Minha Casa, Minha Vida até o alto padrão e o comercial. Qual delas é mais complexa para gerenciar?
Lublo – O processo mais complexo entre esses empreendimentos é o das obras populares, em virtude de suas grandes dimensões. Um bom exemplo de obra do programa Minha Casa, Minha Vida, é o condomínio Terra Nova que estamos construindo com 1274 unidades para cerca de 5 mil habitantes.
Por ser horizontal, exige uma estrutura complexa de rede de abastecimento de água, coleta de esgoto, sistema de transporte público, de coleta de lixo, além dos projetos das edificações.
Portanto, há um intenso diálogo com o poder público para equacionar os equipamentos públicos, como postos de saúde e escolas, além da Caixa Econômica Federal que financiam a aquisição dos imóveis.
Cabe ao gerente de Projetos dialogar com o poder público?
Lublo – É papel do gestor apresentar o projeto aos órgãos públicos, explicar o interesse do empreendedor e apontar as vantagens para o município, que verá nascer em determinada área abandonada um condomínio desenvolvido e urbanizado, quase um bairro.
São muitas e detalhadas reuniões, seguidas por encontros na CAIXA para viabilizar o financiamento. No empreendimento que estamos construindo no município de Palhoça, tivemos inúmeras reuniões com o prefeito, a gerência local da CAIXA e a coordenação da Knokplan.
Redação AECweb / Construmarket
Rafael Lublo, 30 anos, formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS – em São Leopoldo – RS) em 2006. Mestrando em engenharia na Universidade de Passo Fundo (Passo Fundo – RS) na linha de Infra-estrutura e Meio Ambiente, trabalhando o tema de certificação ambiental LEED em Condomínios Horizontais.
Participa de cursos e workshops na área de Gerenciamento de Projetos e Gestão de Pessoas. Atualmente exerce função de Gerente de Projetos na empresa Klokplan Engenharia em Florianópolis – SC (desde dezembro de 2007).
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