“Vivemos em um tempo em que a internet está presente em inúmeras atividades da vida cotidiana das pessoas. Do comércio eletrônico às redes sociais, cada vez mais a internet é usada como meio de interação e troca de informações em tempo real.
O crescimento da Internet e das tecnologias a ela relacionadas, não só está alterando o modo como as pessoas vivem e se relacionam, como também está revolucionando o modo como elas trabalham”. A afirmação da arquiteta Patrícia Moreira Moura, consultora em planejamento e desenvolvimento de projetos, remete para o papel da ferramenta na construção civil.
A arquiteta lembra que “nos últimos anos os projetos tem se tornado cada vez mais complexos e envolvido um número cada vez maior de intervenientes. A complexidade dos empreendimentos, as diferentes especialidades de projeto e os prazos reduzidos para sua execução, são fatores que aumentam a necessidade de integração da equipe envolvida e da organização na troca de informações”.
Ela exemplifica com um projeto de um empreendimento residencial, em que estão envolvidas nada menos que 30 categorias de projeto: planialtimétrico; arquitetônico; interiores; estrutural; escoramento; geotécnico; contenções; terrapanagem; hidrossanitário; prevenção contra incêndio; instalações de gás; telefonia e lógica; SPDA; automação predial; climatização; pressurização de escadas; impermeabilização; vedações; luminotécnica; paisagismo; comunicação visual; esquadrias; acústica; de elevadores; paginação de fachadas; gestão ambiental; canteiro; segurança do trabalho.
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Informação
“Sabemos que no processo de projeto o principal insumo é a informação e os problemas de projeto normalmente são originados de informações repassadas entre a equipe”, diz Patrícia Moura, acrescentando que estas informações podem variar fortemente em relação à sua forma e conteúdo.
“Os problemas de projeto têm em comum o fato de apresentarem um objetivo, algumas restrições através das quais este objetivo deve ser alcançado e alguns critérios através dos quais uma boa solução pode ser reconhecida”, destaca.
A comunicação entre as diversas organizações envolvidas em um projeto também se beneficiou com os avanços tecnológicos que permitiram a troca e o gerenciamento de informações entre os diversos parceiros no projeto (projetistas, construtores, subempreiteiros, clientes, fornecedores).
“No caso da construção civil, há características que a tornam especialmente atrativa para a absorção das vantagens destes recursos tecnológicos: a maioria do esforço produtivo é desenvolvido no canteiro de obras, geralmente afastado do escritório central; um grande número de organizações participam do processo produtivo, exigindo grande esforço no gerenciamento da informação, colaboração e coordenação”, comenta a consultora.
Extranet na construção civil
Nesse cenário, observa-se o uso crescente de Extranet no desenvolvimento de projetos na Construção Civil. “Segundo OBRIEN (2004), as Extranets, ou Extended Internets, são conexões de rede que utilizam as tecnologias da Internet para conectar empresas, clientes, fornecedores ou outros parceiros de negócios.
Com o uso de Extranet na construção civil, as empresas podem criar conexões privadas seguras de Internet (redes privadas virtuais) para acessar bancos de dados comuns, trocar informações e acompanhar o desenvolvimento de projetos”, diz. Diferente da internet, a Extranet não é uma rede amplamente aberta e tampouco fica restrita ao uso interno de uma organização. É uma rede colaborativa que usa a tecnologia da Internet como suporte para interligar pessoas e promover negócios.
“Dessa forma, o uso de Extranet no desenvolvimento de projetos tem apresentado diversas vantagens, entre elas: a agilidade na troca e a confiabilidade no uso de informações, como acessar a última versão de um projeto. Outro benefício é o acompanhamento de alterações realizadas em um projeto desenvolvido. É freqüente o desenvolvimento simultâneo de projetos, em que a emissão de um documento é feita e, logo em seguida, há necessidade de alteração. Nesse momento, torna-se essencial a comunicação à equipe envolvida, pois aquela mudança em um projeto pode impactar em outros projetos, mesmo antes da revisão ser publicada”, ressalta Patrícia Moura.
Ambientes corporativos com extranet
Ela ensina que, no caso de desenvolvimento simultâneo de projetos ou mesmo de projeto e produção, é necessário haver um trabalho bastante cooperativo e a intensa troca de informações, de forma a permitir o adequado gerenciamento do projeto e a correta tomada de decisões. “Atualmente, existem no mercado ferramentas de apoio ao gerenciamento de projetos, criadas com esse foco: o da colaboração entre a equipe. Chamadas de ferramentas de colaboração on line, elas são Extranets direcionadas à troca de informações no contexto especifico de desenvolvimento de projetos, como é o caso da construção civil”.
A consultora alerta que “é muito importante que esses ambientes colaborativos não sejam apenas locais que sirvam de mero repositório de arquivos”. Ao utilizar um sistema de colaboração, espera-se o beneficio efetivo na troca de informações e no gerenciamento do projeto. Dessa forma, uma Extranet para auxiliar no gerenciamento de um projeto deve fornecer condições da equipe interagir durante o desenvolvimento dos trabalhos, além da efetiva troca de informações, opiniões, idéias e registro de alterações e aprovações.
Benefícios da extranet para o gerenciamento dos projetos
“Ao longo dos últimos anos, tive a oportunidade de acompanhar a implementação e utilização de extranet para o gerenciamento de informações de projeto em diversos empreendimentos de construção civil. Através da assessoria na coordenação de projetos de empreendimentos dos setores industrial e de serviços, pude comprovar alguns benefícios dessa ferramenta para troca de informações de projeto”, ressalta, citando:
Garantir a execução dos serviços conforme a última versão dos projetos;
- Agilizar o processo de desenvolvimento do projeto;
- Reduzir falhas e retrabalhos na obra;
- Garantir a confiabilidade das informações de referência do projeto e torná-las acessíveis à equipe;
- Organizar as atividades de diferentes fornecedores e obter colaboração eficiente entre os membros da equipe;
- Criar um esquema que facilite a administração e o compartilhamento de informações;
- Evidenciar as responsabilidades e aumentar o controle mútuo entre os participantes;
- Acompanhar os resultados do processo ao longo de sua execução, bem como antecipar possíveis “gargalos”;
“Sendo assim, posso afirmar que o uso de extranets para o gerenciamento de projetos pode representar grande melhoria na eficácia deste processo, além de reduzir custos e retrabalho na execução dos empreendimentos”, conclui.
Redação AECweb
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PATRICIA MOREIRA MOURA é graduada em Arquitetura e Urbanismo e mestre em Engenharia Civil, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Há mais de dez anos atua como consultora em planejamento e desenvolvimento de projetos.
Entre os projetos que acompanhou, estão: a ampliação dos hospitais Moinhos de Vento (POA/RS 2002-2004), Mãe de Deus (POA/RS – 2004), Banco de Olhos e Maia Filho (POA/RS 1996-2001), obras de ampliação das indústrias Pirelli (Gravataí/RS – 2004), POLO (Montenegro/RS – 2003-2004), Solae (Esteio/RS – 2003), Petroquimica Triunfo (Triunfo/RS – 2005), Dell (Eldorado/RS – 2003) e a reforma do prédio sede da Gerdau (2004/2006-2007).
Também foi responsável pelo projeto de reforma em clínicas médicas e odontológicas no Rio Grande do Sul (1996-2011) e co-autora no projeto vencedor do Concurso Público de Arquitetura para o Cais Mauá do Porto de Porto Alegre (1996). Desde 2007 dedica-se também ao ensino de arquitetura em faculdades do Rio Grande do Sul.
REFERÊNCIAS
CROSS, N. Engineering Design Methods: Strategies for Product Design. Second Edition: The Open University, Milton Keynes, UK, 1994.
LAWSON, B. How Designers Think – The Design Process Demystified. Second Edition. Butterworth Architecture, Cambridge,1990.
MOURA, P.M. Um Estudo sobre a Coordenação do Processo de Projeto em Empreendimentos Complexos. 2005. Trabalho de conclusão (Mestrado em Engenharia) – Curso de Mestrado Profissionalizante da Escola de Engenharia, UFRGS, Porto Alegre, 2005.
OBRIEN, J. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da internet. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
PAKSTAS, A. Towards electronic commerce via science park multi-Extranets. Artigo Elsevier Science B. V. computer communications 22, 1999 University of Sunderland, school of computing, engineering and technology, Sunderland SR1 UK
SILVA, M. A. C.; SOUZA, R. Gestão do processo de projeto de edificações. São Paulo: O Nome da Rosa, 2003.
SOILBELMAN, L.; CALDAS, C. H. S.. O uso de extranets no gerenciamento de projetos: o exemplo norte americano. Salvador, BA. In: ENTAC, 8º, Salvador, 2000.
TZORTZOPOULOS, P. Contribuições para o desenvolvimento de um modelo do processo de projeto de edificações em empresas construtoras incorporadoras de pequeno porte. 1999. 163 f . Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.