O BIM e a pré-fabricação

O uso do BIM vai muito além da coordenação de projetos e da visualização antecipada.
O BIM e a pré-fabricação

Adotado na elaboração de projetos e coordenação, o modelo BIM – Building Modeling Information (Modelagem de Informação da Construção) – está ganhando novos adeptos: os fornecedores. “Vemos que alguns donos de obra, grandes empresas e organizações do setor público estão definindo o que tem que ser contemplado pelo BIM.

E cada especialidade define o nível de detalhe desejado. Por exemplo, os subcontratados que lidam com a parte elétrica vão incluir no BIM detalhes que possam mandar direto para a oficina de fabricação e essas informações serão usadas para pré-fabricar os elementos. Outro caso é quando empresa e fornecedor precisam coordenar as entregas do material com o que está no modelo. Aí entram, não somente a questão do fornecedor, mas também a coordenação com a programação da obra”, explica Thaís da Costa Lago Alves, engenheira e professora assistente da San Diego State University.

O uso do BIM vai muito além da coordenação de projetos e da visualização antecipada que proporciona para os envolvidos com o projeto, incluindo o cliente que em geral não consegue visualizar plantas em 2D e entendê-las em 3D.

 

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“O BIM tem sido usado nos EUA extensivamente para pré-fabricação. Porém, se a obra não toma cuidado com as medidas as-built (medidas da edificação transformadas em desenho técnico) e como elas atendem o que foi definido nos diferentes projetos que compõem o BIM da obra, os benefícios da pré-fabricação são perdidos, pois haverá incompatibilidade das peças quando chegarem à obra, resultando em retrabalho e desperdícios de mão de obra e de material”, explica a engenheira.

Ela cita estudo realizado em Fortaleza, em que a empresa optou pelo uso de portas pré-fabricadas. Mas, ao chegarem à obra, algumas peças não cabiam no espaço. Thaís Alves comenta que a construtora perdeu a vantagem da pré-fabricação, porque teve que desmontar e montar tudo de novo. Isso gerou atraso e a porta perdeu qualidade, pois tiveram que refazer o que já estava pronto.

“É um exemplo de que o BIM não é só uma ferramenta, ele muda um processo inteiro. Se a obra não está apta a receber esse tipo de novidade, o BIM não vai trazer vantagem, exceto pela coordenação de projeto”, alerta.

Leia também: Engenharia simultânea e BIM ajudam gestão de projetos

MAIS USOS

Outro uso do BIM é orientar a programação fina da obra e como as tarefas serão realizadas. Permite visualizar interferências de elementos no canteiro, entre empresas e questões de segurança do trabalho. O modelo é empregado, ainda, em simulações. “As empresas sentam com os fornecedores para simular cenários e desenvolver o modelo, até o ponto em que seja possível ver como será a instalação do material na obra. Assim, é possível enfrentar desafios que só surgiriam na execução, antes que isso se torne um problema. Condição fantástica para o planejamento”, ressalta Thaís Alves.

Algumas construtoras ainda veem o BIM como novidade complexa. “Olham e dizem ‘esse modelo não é para a minha empresa’, ou ‘é muito complicado’. Posso dizer que isso não é verdade. O BIM pode ser usado em qualquer obra e de qualquer tamanho. É algo que veio para ajudar, integrar e tornar o processo mais eficiente. Mas, ao mesmo tempo em que o BIM tem todas essas vantagens, é preciso lembrar que o gerenciamento da obra e o planejamento têm que estar na mesma linha. Não adianta ter um modelo fantástico no computador, mas na prática as peças não se encaixarem porque a qualidade da mão de obra ou do gerenciamento não é boa”, ressalta.

O BIM e a pré-fabricação

SEGURANÇA

Com o BIM, o gestor de projeto vai continuar verificando se o que foi especificado está sendo atendido. A diferença maior é que os fornecedores têm disponibilizado detalhes que podem ser adicionados aos modelos de cada projetista. Esse detalhamento inclui informações que serão valiosas no futuro para questões de manutenção. A professora exemplifica: o projetista de instalações hidráulicas vai inserir no projeto informações sobre o tipo de válvulas e questões de operação e manutenção. No futuro, se a obra precisar de manutenção, antes de se quebrar qualquer parede ou perder tempo tentando descobrir a marca da válvula, a manutenção poderá verificar a informação no modelo e solicitar o produto correto.

Leia também: Tendências em gestão de projetos no Brasil

Thaís Alves ressalta que, para esse modelo dar certo, é preciso investigar quais os níveis de detalhes que se quer ter no BIM. O resultado será seu uso de forma mais eficiente pelos profissionais da obra, por quem vai pré-fabricar, para quem está apenas projetando, e pelas pessoas que estão fazendo a programação da obra. “A indústria ainda se move devagar em relação a isso, mas o que temos visto é que o modelo tem que ter um nível de definição e de detalhe para as diferentes atividades”, diz. O modelo mais utilizado relacionado à programação da obra que é enviada ao fornecedor é a entrega Just in time, pela qual o fabricante envia exatamente o que a obra precisa naquele momento. “O ponto no qual chegamos agora é um pouco mais avançado do que simplesmente ligar para o fornecedor e pedir a lista de material de que precisa. Com o BIM é possível saber exatamente a parte ou peça que será usada, e suas dimensões. Essas informações que estão no modelo serão usadas diretamente para a fabricação”, reforça.

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CONTROLE

A professora conta que a pré-fabricação dos materiais proporciona aceleração, uma vez que esses são produzidos rapidamente e só levados para a obra na hora da instalação. “O Brasil, com as obras da Copa, poderia tomar como exemplo um estádio que foi feito em Nova Iorque, Nova Jérsei, que é o estádio dos Jets e do Giants, da Football Leage. Nele, a pré-fabricação foi usada de forma muito intensiva. O BIM era conectado com o fornecedor de pré-fabricados de concreto, e este fornecedor sabia, pelo modelo, quais eram as partes que seriam instaladas. Dessa forma o fornecedor ia trabalhando exatamente na mesma sequência, para não ter acúmulo de estoque na obra, uma vez que não havia espaço para armazenar. Cada peça que chegava era como um quebra-cabeça, que devia ser encaixado exatamente no lugar certo”, explica Thaís Alves.

Softwares e aplicativos ajudam nesse controle. “Quando os materiais são entregues, podem ser controlados com o uso dos tablets. Por exemplo, o fornecedor e o coordenador da obra controlam as portas que chegam por meio do software instalado no tablet. Ambos conseguem saber, em tempo real, quais portas chegaram, quais estão sendo instaladas e para onde as outras devem ir. Isso reduz muito o manuseio na obra”, afirma.

Redação AECweb

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COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA


Thaís da Costa Lago Alves
 é especialista em gestão de construção e sistemas baseados em projetos de produção. Possui doutorado em Civil and Environmental Engineering, pela University of California. 

Suas áreas de pesquisa incluem a aplicação da produção enxuta – construção de conceitos, princípios e ferramentas para melhorar o desempenho dos sistemas de produção – e produtos em diferentes estágios de seu ciclo de vida e cadeias de abastecimento. 

Por mais de dez anos ensina e orienta alunos, pesquisando e colaborando com empresas de construção para a difusão e implementação do lean especialmente no campo do planejamento e controle da produção nos canteiros de obras.

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