IPD garante o uso da informação de forma integrada
Apesar de ser um conceito bastante recente na construção civil, o Integrated Project Delivery (IPD) já mostrou que tem muito a acrescentar à área de gestão de projetos ao garantir o uso da informação de forma integrada. Com ele, é possível desenhar todo um processo de projeto e estabelecer regras sobre como as informações serão trocadas, além de assegurar padrões.
Segundo a arquiteta Rita Ferreira, sócia na DWG Arquitetura e Sistemas, o IPD trata o projeto na sua totalidade, sem a fragmentação que normalmente está presente nos processos tradicionais. Ele consiste, assim, de uma visão que transcende o desenho técnico e que está focada no processo do projeto, desde a concepção até o uso e manutenção.
Sua implementação está associada ao Building Information Modeling (BIM). “Sem a tecnologia da informação, é impossível fazer a entrega integrada dos projetos com a qualidade e velocidade pretendidas”, comenta Ferreira.
Tudo fica mais explícito, sem ter de recorrer ao profissional responsável para esclarecer determinada informação quando surge um problema, como se faz hoje Rita Ferreira
Para ela, com o uso do BIM e da gestão integrada, o IPD, a tendência é que o projeto se torne mais alinhado e estruturado, de tal maneira que, quando se passa de uma etapa para outra – da concepção para o desenvolvimento do projeto e para a obra –, é possível visualizar os processos anteriores e como e porque as decisões foram tomadas. “Tudo fica mais explícito, sem ter de recorrer ao profissional responsável para esclarecer determinada informação quando surge um problema, como se faz hoje.”
COMUNICAÇÃO PADRONIZADA
Para evitar que os profissionais envolvidos no projeto criem e insiram dados aleatórios, a ABNT está desenvolvendo uma série de normas técnicas que vão gerar um padrão de informação. “As especificações têm de ser muito bem feitas, e isso não tem a ver apenas com detalhamento gráfico”, lembra Rita Ferreira, referindo-se aos muitos níveis de detalhamento que o BIM permite.
É possível, por exemplo, ter uma parede num nível 200, sem ter as camadas da estrutura detalhadas. Mas se pode alcançar níveis mais altos, chegando a detalhes de revestimento, pintura e cores. No caso do drywall, dá para detalhar até mesmo o parafuso. “Mas essa informação deve seguir determinado padrão para que a troca de informação seja consistente”, completa.
No IPD, portanto, a principal regra é a padronização da comunicação, o que está presente no padrão Industrial Information Classes (IFC) referente à construção civil. Nele, os elementos têm códigos para os sistemas que compõem o projeto. Esses códigos são utilizados de maneira padronizada dentro do BIM, para que a troca de informação seja possível sem intervenção e edição do profissional. “Quando se tem a integração proposta pelo IPD, não se corta o vínculo com a origem, preservando a consistência da informação. Lembro que todo software dispõe de recurso tecnológico que vincula a informação da origem, do projeto de arquitetura, com os demais projetos”, ensina Ferreira.
As especificações têm de ser muito bem feitas, e isso não tem a ver apenas com detalhamento gráfico Rita Ferreira
É função do gerente de projetos, que trabalha com o conceito de IPD, conduzir as equipes para o uso de parâmetros, construídos explicitamente dentro do processo do projeto. Dessa maneira, os profissionais poderão saber porque o projetista tomou determinada decisão. “Vamos supor que, em um determinado projeto, o arquiteto especifique uma parede sem atender à acústica. O projetista de acústica deve informá-lo que ele precisa alterar sua especificação, e não fazer a mudança por conta própria. Só assim a troca de informação entre as disciplinas será consistente”, sublinha.
A arquiteta defende que essa troca de informação deve ser feita eletronicamente, e não verbalmente. “É essencial carregar isso dentro do modelo, porque se um projetista, por alguma razão, deixa de atuar no projeto, o modelo está preservado para sua continuidade”, explica Ferreira. Esse aspecto do BIM e do IPD exige que o projetista entregue toda a informação, de maneira que todos os que vêm na sequência do processo prescindam dele.
Uma questão que comumente aflige os profissionais em relação às tecnologias é a possibilidade de eles se tornarem menos ‘necessários’ depois de as informações serem inseridas no modelo. “De fato, se as informações estiverem completas, é possível fazer tudo sem consultar o projetista. Porém, não há razão para se preocupar, pois a responsabilidade técnica e o trabalho ético deverão continuar a existir no processo de gestão. Há muito debate sobre isso atualmente”, conclui.
Rita Ferreira – Doutoranda em Arquitetura no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos. Mestrado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP (2007).
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (1990). Sócia e Diretora da DWG Arquitetura e Sistemas desde 1994.
Tem experiência na área de construção de edifícios, com ênfase em tecnologia da informação aplicada a projeto e construção, coordenação técnica de projetos para construção, desenvolvimento de projetos de produção, gestão de projetos de inovação, atuando principalmente com as seguintes abordagens e ferramentas: CAD 3D, Modelagem da Informação na Construção (BIM), Modelagem de Processos de Negócio (BPM), UML (Unified Modelling Language) e RUP (Rational Unified Process). (Fonte: Currículo Lattes)