Gestão de Projetos na Construção Civil

Gestor de projetos deve ter visão holística e objetivos definidos

O gestor de projetos precisa ter conhecimentos mínimos sobre as demais áreas da construção civil para poder dialogar com os diversos especialistas envolvidos na concepção de um empreendimento. Não é necessário que ele saiba calcular a solução de sistema construtivo apresentada pelo projeto, mas sua atuação vai além de ser apenas um bom administrador. Trata-se de um profissional com perfil generalista, boa compreensão dos processos produtivos e da solução dos conflitos técnicos, além de ser um bom gestor de pessoas.

É preciso conhecer os procedimentos de execução de obras, de modo a propor soluções exequíveis Daniela Corcuera

Na visão da arquiteta Daniela Corcuera, mestre em arquitetura sustentável pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), este profissional deve ter uma visão holística do processo, com metas e objetivos bem definidos e conhecimentos sobre técnicas de criação. “Também é preciso conhecer os procedimentos de execução de obras, de modo a propor soluções exequíveis”, afirma.

 

Leia também: Gestão da comunicação no canteiro de obras

INTEGRAÇÃO E COORDENAÇÃO

Daniela afirma que, para garantir a boa integração dos projetos, o gestor deve fazer uma coordenação eficiente, não apenas no campo técnico, mas também no pessoal, promovendo reuniões eficazes para a solução de conflitos.

A especialista lembra que existem ferramentas para auxiliar a compatibilização de projetos, como as tecnologias BIM (Building Information Modeling), em que as soluções podem ser avaliadas em conjunto, simulando seu desempenho. Entretanto, lamenta que na maioria dos casos o relacionamento do gestor com os projetistas ainda ocorra de maneira sequencial e não integrada.

E defende que os projetistas complementares sejam integrados ao processo de concepção desde o início dos trabalhos, orientando e norteando as soluções arquitetônicas. “Trata-se do Processo de Projeto Integrado, em que os profissionais e especialistas trabalham como equipe e não de modo independente. Isto traz benefícios em diversas esferas, inclusive na ambiental, reduzindo demandas e cargas ao meio ambiente e promovendo espaços mais salubres para os ocupantes”, argumenta.

Um gestor de projetos consegue dialogar com diversos especialistas envolvidos no desenvolvimento de um empreendiment, desde que tenha com conhecimentos mínimos sobre outras áreas da construção civil (foto: shutterstock / Jat306)

Em relação à contratação de projetistas especializados para definir as instalações hidráulicas, elétrica, sistemas de ar-condicionado, ou de informação, não existe uma regra para o gestor seguir, pois depende do porte do escritório e do seu perfil. Alguns, explica, são empresas de projetos que têm em seu corpo técnico especialistas de várias áreas. Outros, menores, trabalham em parceria com profissionais complementares.

No desenvolvimento do projeto executivo é importante que o gestor mantenha reuniões regulares, porém, tudo depende do porte do empreendimento e da área em questão – que pode ter maior ou menor envolvimento nas diferentes etapas do projeto. “Em grandes projetos, é possível que exista um gestor geral que é assessorado por gestores de área”, afirma Daniela.

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MUDANÇA DE RUMO

Ainda que não seja responsável pela execução, o gestor precisa ter o olhar à frente, considerando a viabilidade técnica e executiva das soluções propostas Daniela Corcuera

Em seu trabalho, acontece de o gestor se deparar com propostas de alteração do projeto original, feitas por algum projetista, visando facilitar ou reduzir custos de uma determinada instalação que, se implantada, pode exigir alterações no projeto todo.

Daniela explica que nestes casos, são muitas as variáveis a serem analisadas, como os custos de retrabalho, os prazos, a complexidade de execução, domínio técnico, custos de execução, payback, redução de custos operacionais, valorização do empreendimento, redução de impactos ambientais etc. “O gestor deverá analisar todas essas variáveis para apresentá-las ao cliente para tomada final de decisão”, diz.

O gestor de projetos tem, ainda, um papel fundamental, na medida em que defende os interesses do empreendedor ou cliente – que, na maioria das vezes, não entende muito de projeto e execução de obras – frente aos fornecedores de detalhamentos e projetos, ou mesmo de execução dos serviços de obra. “Ainda que não seja responsável pela execução, o gestor precisa ter o olhar à frente, considerando a viabilidade técnica e executiva das soluções propostas”, orienta.

 

 

BOA GESTÃO MINIMIZA CUSTOS

Daniela afirma que a boa gestão de projetos influencia nos custos finais de um empreendimento. O custo de projetos representa 1% ou menos do custo total de um edifício com vida útil em torno de 40 anos. Um bom projeto reduz custos de construção, de operação, manutenção e adequação. “Deveria se investir mais em projetos e na boa gestão dos mesmos, pois a possibilidade de intervenção no empreendimento nesta fase é da ordem de 90%. Com o edifício pronto cai para, aproximadamente, 10%”, diz.

Em sua opinião, investir significa pagar melhor, envolver mais especialistas e dar-lhes mais tempo de desenvolvimento. “Os prazos no Brasil são absurdamente curtos para garantir o desenvolvimento de soluções eficazes e adequadas”. A especialista defende ainda que com um bom projeto nas mãos é possível ganhar em tempo de execução, reduzir custos de construção e operação, desenvolver soluções que irão contribuir mais para a satisfação do cliente, reduzindo os impactos ambientais.


Leia também:

Boa prática recomenda integração entre gestão de projetos e outras áreas

4 dicas para evitar falhas na construção civil


Redação AECweb / Construmarket


Colaboração técnica

Daniela Corcuera – Arquiteta e mestre em Arquitetura Sustentável pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). É consultora, atuando na área de certificação, materiais de construção e projetos.

Ministra diversos cursos de atualização profissional e pós-graduação, é docente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Belas Artes, SENAC, INBEC e AEA. É LEED Accredited Professional, pelo United States Green Building Council (USGBC) e formada pela Fundação Vanzolini para auditoria AQUA, ambos sistemas de certificação de empreendimentos sustentáveis.

Atua como consultora e auditora do Instituto Falcão Bauer de Qualidade, no grupo do Selo Ecológico para certificação de materiais. É membro do comitê de materiais do GBC Brasil para a tropicalização do LEED e membro do Comitê Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS). Realiza palestras no Brasil e no exterior e tem várias publicações.

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