A ABNT NBR 15575 2013 – Edificações Habitacionais – Desempenho, trouxe uma grande revolução no segmento da construção habitacional, por ser a primeira normativa brasileira que explicita critérios de desempenho específicos para os sistemas construtivos.
“É importante destacar que o nível de exigências de desempenho está associado à vida útil e à durabilidade do empreendimento. Como a edificação precisa ter um nível de desempenho e qualidade não somente no ato da entrega do empreendimento, como também ao longo do tempo, a responsabilidade do gestor de projetos ficou melhor definida” afirma Sergio Botassi, consultor e coordenador de cursos de pós-graduação lato-sensu na PUC-Goiás.
“Isso fica claro na parte 1 do documento, ao explicitar a responsabilidade de cada parte envolvida no projeto: desde o incorporador que deve se preocupar, por exemplo, com as questões ambientais no momento de escolher o terreno, passando pelo construtor que precisa garantir a qualidade da construção, até o usuário final do empreendimento, para que possa utilizá-lo de maneira adequada prolongando a vida útil do produto”, continua Botassi.
Segundo ele, anteriormente ao documento, o que existiam eram as chamadas normas prescritivas que, de uma maneira geral, estabeleciam parâmetros e qualidade do produto, mas não deixavam claro o quanto de desempenho o produto deveria propiciar.
“Isso quer dizer que ao construir um edifício com uma alvenaria de bloco cerâmico e acabamento de argamassa cimentícia, a norma especificava aspectos para esses elementos, mas não o quanto eles proporcionariam de qualidade durante o uso”.
Com a vigência da norma ficou explícito que, independente da solução construtiva adotada, o importante é atender aos parâmetros de qualidade de uso como o conforto térmico e acústico. “A partir daí, o empreendedor e o gestor de projetos passaram a ter uma preocupação mais contundente em tentar garantir que uma edificação tenha a qualidade adequada de conforto, para que o usuário tenha a satisfação atendida.
Além de traçar estratégias mais focadas e que serão respeitadas. Como a própria filosofia do PMI – Project Management Institute – deixa claro, é preciso conhecer muito bem as entradas e saídas de cada processo. E a saída principal do final de toda a cadeia é a satisfação do consumidor, quem irá usufruir o bem”, comenta o consultor.
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“A partir daí, o empreendedor e o gestor de projetos passaram a ter uma preocupação mais contundente em tentar garantir que uma edificação tenha a qualidade adequada de conforto, para que o usuário tenha a satisfação atendida. Além de traçar estratégias mais focadas e que serão respeitadas.
Como a própria filosofia do PMI – Project Management Institute – deixa claro, é preciso conhecer muito bem as entradas e saídas de cada processo. E a saída principal do final de toda a cadeia é a satisfação do consumidor, quem irá usufruir o bem”, afirma Botassi
De acordo com o coordenador, os projetistas precisam repensar a forma de projetar. “Atualmente, esses profissionais estão pensando de maneira muito isolada. Por exemplo, um projetista estrutural, muitas vezes, concebe seu projeto a partir do arquitetônico, considerando que a estrutura deve atender a uma vida útil mínima – como a norma de desempenho e outras já estabeleciam.
Porém, mais do que isso, a normativa procura exigir do profissional que ele tenha uma visão sistêmica do produto que é o projeto. Ou seja: será que o projeto está alinhado à solução construtiva que foi estabelecida para aquela edificação?
Vamos supor que o projetista estrutural conceba um prédio todo em estrutura metálica – pilares e vigas. É preciso verificar a sua exequibilidade, ou seja, será que essa é a melhor solução construtiva para aquele empreendimento? Qual será o tipo de vedação que estará associada àquela estrutura metálica?
Supondo que seja escolhida a vedação em placa cimentícia ao invés da convencional – em bloco cerâmico –, é fundamental saber que esse tipo de estrutura requer uma fixação diferenciada. Portanto, o projetista precisa se preocupar com o seu projeto, não de uma maneira isolada, mas verificando a tão famosa compatibilização, muito discutida quando o assunto é projeto”.
O professor considera que fomentar essa visão integrada é papel do gestor de projetos que deve, cada vez mais, aproximar os projetistas do empreendedor e incorporador. Fazer com que ele conheça melhor a realidade da construtora, para que possa, de fato, preparar um projeto coerente com as características da obra, da incorporadora.
“Esse é o calcanhar de Aquiles da norma de desempenho NBR 15575, porque ela diz, mas não de maneira muito explícita, que o projetista precisa trabalhar de maneira mais integrada com o empreendedor. O que ainda não é visível com facilidade no mercado”, afirma Botassi.
Conhecer a normativa e fazer com que ela seja cumprida é o principal desafio dos profissionais da área. “Como é uma norma nova e extensa e, de certa forma, até revolucionária, os profissionais estão em um estágio de aprendizado, aprendendo como adequá-la à realidade da construção civil”, comenta.
É o caso da escolha do terreno: o documento deixa bem claro que, se for uma área próxima a uma via de grande circulação, é preciso cuidar da questão dos ruídos na fachada. Assim, ao conceber o empreendimento, é necessário já prever de que maneira lidar com a questão do conforto acústico.
Todas essas preocupações nunca ficaram muito claras nas boas práticas da engenharia e, com o advento da norma, ficou mais evidente que a preocupação com o desempenho deve existir desde o nascedouro do empreendimento. É uma mudança de paradigma”, destaca.
Botassi recomenda que é fundamental, neste momento, que os atores da construção civil se informem sobre a norma, através de artigos e palestras e comecem a discuti-la, principalmente, na questão da exequibilidade.
“Como posso na minha edificação convencional atender aos requisitos mínimos de desempenho exigidos pela norma? Essas discussões ainda estão sendo desenvolvidas e absorvidas pelo meio técnico.
Há algumas iniciativas como fazer ensaios de desempenho com soluções construtivas convencionais para detectar se atendem aos requisitos. O estágio é de amadurecimento. É preciso sensibilizar a cadeia produtiva da construção civil. Muitos ainda não perceberam o quanto a norma é revolucionária”, observa.
Enquanto novos sistemas construtivos são implementados rapidamente no mercado, os desempenhos dos mais complexos de serem alcançados pelas construtoras são os de conforto térmico e acústico. “Um exemplo disso são as edificações construídas em placas de concreto. Há dez anos não se imaginava que poderia ser aplicado na realidade brasileira.
Porém, essas novas soluções visam o ganho de produtividade e esquecem, muitas vezes, da qualidade que deve ter o empreendimento ao longo do tempo. Paralelamente, ainda há problemas que precisam ser resolvidos e dúvidas técnicas sobre como alcançar o nível de qualidade de conforto acústico e térmico para atender a normativa.
A laje convencional de concreto atende o conforto acústico ao impacto? Quantas pessoas não escutam o vizinho chegando em casa, devido ao barulho dos sapatos? É preciso evoluir tecnicamente para se chegar a soluções adequadas e com um custo-benefício aceitável”, diz.
Para Botassi, um dos primeiros passos que o gestor de projetos deve dar é conhecer profundamente a norma. “É importante entendê-la bem, dissecá-la. Para isso, o ideal é participar de debates e encontros que tratam do tema. Atualmente, está muito claro no meio técnico que a norma precisa ser melhor entendida para, dentro da nossa realidade, se adequar a ela”.
O segundo passo é buscar a conformidade à norma dentro do escopo de cada projeto e do porte da empresa. “É comum os profissionais usarem uma solução muito arrojada, mas que poderia ser substituída por outra menos complexa e mais barata. E o contrário também é verdadeiro.
Assim, é preciso verificar junto à empresa se os processos que eles possuem, desde o estudo de viabilidade do empreendimento até os procedimentos operacionais de construção, atendem aos requisitos”, afirma o consultor.
Redação AECweb / Construmarket
Sergio Botassi dos Santos – Engenheiro civil há 14 anos, mestre e doutor em construção civil formado pela UFRGS.
Possui empresa de consultoria (SBS Consultoria em Engenharia) direcionada para soluções estruturais e análise de patologias em concreto, além de realização em gestão de risco.
Atua como perito em engenharia em causas judiciais e pelo Ministério Público há mais de 5 anos. É professor e coordenador de cursos de pós-graduação latu sensu do IPOG e na PUC-Goiás.
É coautor de 2 livros relacionados com estruturas de concreto pelo Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON, e possui mais de 30 artigos técnicos publicados em eventos e revistas nacionais e internacionais.
Foi agraciado com o prêmio de melhor tese pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República em 2011.
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