Redação AECweb


“A falta de engenheiros e arquitetos qualificados para a função trouxe para o mercado da construção civil a tendência da gestão terceirizada de projetos”. Quem afirma é a arquiteta Renata Marques que mantém, há oito anos, escritório que leva seu nome, especializado nesse segmento. Essa forma de gestão, segundo ela, deve participar do empreendimento desde o início, ajudando a eliminar pontos vulneráveis da planta que possam resultar em futuros problemas ou falhas na execução. “Outra vantagem é o estabelecimento de um cronograma, que permita um melhor aproveitamento da mão de obra envolvida na construção”, explica.

Renata Marques traça um paralelo entre a atuação do gestor como funcionário de uma construtora e a de um escritório contratado. “O gestor de projetos da construtora tem o poder de contratação de parte dos projetistas, o que é muito importante”, diz, acrescentando que a direção das construtoras escolhe a maioria de acordo com seus critérios, mas o coordenador tem a seu favor a autonomia para liberação de pagamentos. “O que dificulta um pouco o trabalho do coordenador terceirizado é quando a construtora não nos dá autonomia sobre os pagamentos, porque, muitas vezes os projetistas não estão de acordo com o cronograma estipulado no contrato. Ou seja, determinada fase do trabalho foi finalizada e ele poderia receber, mas o contrato não diz isso, o que causa mal-estar”, sublinha a arquiteta.

Essas são algumas das muitas razões pelas quais a gestão terceirizada de projetos deve estar presente desde o início da contratação dos projetistas. “Podemos, assim, participar da definição do escopo do trabalho e formatação do contrato – fases fundamentais para que se tenha uma coordenação de projetos correta”, diz.

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SUPERVISÃO

Renata Marques entende que, quando a coordenação está dentro da construtora, a autonomia é maior para tratar com os projetistas. “Mas, hoje, constatamos que as empresas encontram dificuldades, pois são raros os profissionais com capacitação técnica e experiência no mercado. Afinal, esse é um trabalho que exige grande conhecimento técnico de todas as disciplinas de projeto. Temos que entender as premissas e saber conduzir um bom relacionamento com os projetistas. E, caso ocorra um problema na obra, invariavelmente a pergunta é ‘quem foi o responsável pela coordenação?’. É uma grande responsabilidade técnica”, observa.

Devido à abrangência da função, a arquiteta optou por ter um número menor de clientes, cada um com várias obras. “Dessa forma, podemos alinhar os padrões, premissas e diretrizes dos projetos, fazendo um atendimento personalizado aos clientes. O gestor terceirizado precisa conhecer, em primeiro lugar, quais são as premissas da construtora e quais são os padrões de execução que vão impactar diretamente nas decisões de projeto. “Muitas vezes, o arquiteto da construtora não consegue nos informar sobre tudo o que precisamos e isso demanda um tempo. Imagine se tiver que alinhar minha equipe com a de 50 construtoras, com 50 tipos de definições de diretrizes distintas, como vou conferir os padrões de cada uma delas? É por isso que o atendimento personalizado é o caminho para entender exatamente o que a construtora precisa, prazos de projetos e normativas”, ensina.

A arquiteta ressalta que a gestão terceirizada só funciona se o gerente interno der a mão para o coordenador externo. “Se houver alguma desconfiança entre eles, não existe coordenação”, afirma. Cabe a esse profissional da construtora supervisionar o trabalho do gestor terceirizado, dando o respaldo junto à empresa para qualquer dificuldade que surja durante o processo.

MAIS ATENÇÃO

Os empreendimentos que já nascem destinados à certificação de impacto ambiental têm mais um item a ser verificado. “Se o prédio busca a certificação LEED, por exemplo, eu, como gestora, tenho que acompanhar todos os detalhes junto com o consultor de sustentabilidade”, observa.

Coordenar projetos de obras altamente industrializadas é mais fácil. Porém, exige atenção redobrada, pois o nível de detalhamento é elevado. “Já trabalhei com vários empreendimentos que usaram banheiro pronto, estrutura metálica e fachada pré-moldada. Ocorre que qualquer erro de projeto ‘estoura’ lá na frente, no canteiro, porque tudo já foi pré-fabricado”, diz, Renata Marques, ilustrando: “O banheiro pronto exige uma logística de canteiro que pode impactar nas soluções de projeto. De posse da altura do ambiente, preciso considerar a altura do carrinho para a entrada da peça na laje; terei que criar uma logística de gruas que pode repercutir no embasamento do térreo, porque preciso definir onde a grua estará posicionada, como vou chegar com esse banheiro no pavimento, programar a entrada da fachada pré-moldada e como é feito o seu encaixe. Para o coordenador de projetos é primordial entender como será a logística para que possa fazer a adequação de todos os sistemas”, recomenda.

 

 

COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Renata Marques é arquiteta, pioneira em gerenciamento de projetos, tendo trabalhado nesta atividade desde o início de sua carreira. Atualmente, a profissional está à frente da equipe do escritório Renata Marques, que conta com experiência acumulada em coordenação, concepção e compatibilização de projetos, desenvolvimento de projeto arquitetônico e executivo, aprovação de projeto de arquitetura e supervisão de projetos e obras para as mais importantes construtoras e incorporadoras do Brasil. No decorrer de sua trajetória profissional, Renata participou da implantação de inovações tecnológicas importantes em relação aos sistemas construtivos adotados no País, como estrutura metálica, fachada pré-moldada, banheiro pronto, drywall, entre outros.

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