“O segmento de restauro patrimonial é interessante, tanto para engenheiros como para arquitetos”, afirma o engenheiro Jorge Campana, consultor em arquitetura e estruturas da construtora Biapó, especializada no segmento. Campana, doutor na matéria e atuando há 20 anos na área, considera que o mais importante é entender que as naturezas dos serviços, da abordagem e do ritmo da obra de restauro são totalmente diferentes.
“O profissional deve estar disposto a estudar e se requalificar, para entender essa diferença, que não é obvia. Existe muita resistência em relação às técnicas específicas por parte dos profissionais que atuam em obras novas”, alerta.
Essas obras são um universo à parte, desde a primeira ação referente ao restauro de um edifício histórico, quando se estabelece a função ou uso, sem o qual a restauração perde o sentido. Segundo ele, o trabalho parte do projeto de restauro, composto por várias etapas.
“É feita a pesquisa histórica, que contextualiza o edifício ao longo de sua existência, pontuando os seus períodos e a sua importância na história, para nortear o partido da proposta de intervenção”, explica. É preparado, em seguida, o projeto técnico, envolvendo quatro estudos:
Campana comenta que o tombamento de um edifício ocorre por diversos motivos e por diversas instâncias. As restrições às obras de intervenção serão maiores ou menores na proporção da importância do edifício no contexto histórico de um município, estado ou nação.
E, ainda, se seu valor remete a um tombamento de conjunto ou individual. “Lembrando que, neste assunto, cada caso é único e deve ter abordagem específica. No entanto, as alterações, quando imperiosas, devem se ater a itens secundários que não impliquem descaracterizações”, diz.
O profissional deve estar disposto a estudar e se requalificar, para entender essa diferença, que não é óbvia. Existe muita resistência em relação às técnicas específicas por parte dos profissionais que atuam em obras novas
Em boa parte dos casos, numa obra de restauro são necessários os mesmos projetos complementares demandados em uma obra convencional – elétrica, hidráulica, combate a incêndio, entre outros.
“O que irá determinar a quantidade de projetos complementares são as características do edifício aliadas à proposta de intervenção. Geralmente a quantidade e a qualidade dos elementos artísticos existentes demandam a elaboração de projetos específicos adicionais”, ensina.
De acordo com Jorge Campana, o gestor de projetos de obras vai trabalhar sempre com projetistas especializados porque os edifícios históricos, predominantemente os mais antigos, são construídos com técnicas que não são de domínio do mercado de construção civil contemporâneo.
“Todos os profissionais envolvidos devem ter habilitação adequada para atuar nesses cenários exclusivos. E principalmente o gestor, cujo domínio do assunto é fundamental para entender as particularidades envolvidas e definir as contratações, além de ter habilitação necessária para lidar com as demandas da fiscalização”, revela.
Geralmente, são envolvidos dezenas de especialistas, entre eles, historiadores, arqueólogos, museólogos, arquitetos especialistas, engenheiros com conhecimento de estruturas antigas, técnicos em restauração artística, moldadores, escultores, marceneiros, serralheiros e pintores.
Dependendo do nível do tombamento – municipal, estadual, federal ou mundial -, será preciso se reportar às diversas instâncias de fiscalização e ter o extremo cuidado em abordar elementos históricos que, não raro, são únicos e demandam sensibilidade e responsabilidade além da usual
“O gestor deve perceber que, ao contrário dos edifícios contemporâneos que se reportam apenas à instância técnica e comercial, os edifícios históricos se reportam, além destas, às instâncias históricas, artísticas e aos órgãos de patrimônio”, destaca.
Surge daí o principal desafio para o profissional: lidar com um projeto que demanda diversas técnicas pouco usuais ao mercado. “Dependendo do nível do tombamento – municipal, estadual, federal ou mundial -, será preciso se reportar às diversas instâncias de fiscalização e ter o extremo cuidado em abordar elementos históricos que, não raro, são únicos e demandam sensibilidade e responsabilidade além da usual”, revela Campana.
Um gestor de projetos da área de restauro deve ter ciência de que estão em questão elementos especiais, além de demandar ao gestor de obras que aloque, no projeto, profissionais devidamente habilitados.
Independente de suas habilitações, o gestor de obras deve certificar os profissionais com abordagens apropriadas para cada técnica envolvida, de forma que os serviços sejam executados adequadamente e com o aval da fiscalização. Empresas especializadas neste segmento costumam treinar e qualificar seus profissionais constantemente.
Para o doutor em restauro, a fluidez do cronograma de obras está na direta relação da qualidade dos projetos, da equipe executiva e da participação pró-ativa da fiscalização. “Obviamente, em edifícios históricos, ocorrem surpresas relacionadas a itens que não foram devidamente cadastrados e que podem demandar estudos adicionais para execução”, finaliza.
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Redação AECweb / Construmarket
Jorge Campana – Engenheiro Civil e doutor em gestão de obras de restauro, engenharia Civil e gestão de projetos pela UFF – Universidade Federal Fluminense. Membro da Associação de Empresas de Restauro, professor do curso de pós-graduação em restauro da Universidade Estácio de Sá, professor do IAB – Instituto da Arqueologia Brasileira – e do curso de especialização e pós-graduação em restauro do SENAI. Atualmente é engenheiro na ARS URBE projeto & pesquisa.
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