O mundo da gestão, seja da engenharia ou do mercado imobiliário, transita para um novo momento, o da gestão de projetos 3.0. Nascida nos anos 1960, a atividade passa por um processo de transformação, consequência das tecnologias surgidas nas últimas décadas e das mudanças de paradigmas. “Estamos em uma transição de eras: da industrial, que vigorou fortemente até os anos 1980, para a do conhecimento – conceito que transcende o da informação pura e simples”, observa o consultor João Gama Neto, ex-presidente do Project Management Institute (PMI) de São Paulo.
Quando a nova era estiver consolidada, boa parte da humanidade estará trabalhando com conhecimentos, confirmando o que dizia, há algumas décadas, Peter Drucker, considerado um ícone em administração e gestão. E o gerenciamento de projetos será um grande beneficiário dessa revolução introduzida em todo o mundo pelas telecomunicações e a informática.
SOFTWARES DE GESTÃO
Há cerca de 20 anos, qualquer alteração em um dos quase 30 projetos que constituem uma obra passava por um trâmite sem fim. Era preciso plotar dezenas de cópias e enviar, via office boy a todos os intervenientes.
Hoje, os softwares de gestão de projetos online, como Construmanager, por exemplo, permitem que o gerente de projetos tenha, na ponta dos dedos, as versões atuais de todos os projetos. A solução evita o antigo desperdício de tempo, dinheiro, prazo e qualidade dos projetos.
É essencial uma mudança de abordagem por parte do gerente de projetos, que, utilizando as ferramentas disponíveis e abrindo-as para a participação de todos – do pedreiro ao engenheiro –, gera o empoderamento da equipe João Gama Neto
“A tecnologia trouxe mudanças no comportamento do ser humano. Isso não significa, porém, que o gestor de projetos – inclusive o de produtos relacionados à informação –, coloque seu foco apenas em ferramentas tecnológicas”, comenta o especialista, completando: “Ao contrário, hoje é comum que os profissionais utilizem técnicas de baixa tecnologia, colaborativas, que envolvam o trabalho em equipe desenvolvido com mais agilidade”, explica.
É o caso do Kanban, sistema criado na indústria automobilística japonesa, que pode ir de um quadro ou folha de papel até um software, em que cartões representando atividades do projeto são permanentemente atualizados.
“É o que chamamos de gestão à vista, porque todos os envolvidos têm acesso visual a essa evolução e participam da gestão. É quando a gestão sai das mãos do gerente de projetos e é compartilhada por toda a equipe”, comenta Gama Neto.
Nesse novo tempo que vai se delineando, as ferramentas para o gerenciamento de projetos não são as mesmas de décadas passadas. “O próprio PMI defende que a tendência é o uso de ferramentas enxutas e ágeis, focadas na agilidade organizacional”, diz.
INOVAÇÕES NA CONSTRUÇÃO CIVIL
A construção civil já trabalha com sistemas mais complexos, como o BIM (Building Information Modeling), e com conceitos contemporâneos, a exemplo do Lean Construction (ou Construção Enxuta). O Lean propicia desenvolver mais com menos, ganhando agilidade e integrando todos os envolvidos no projeto, o que resulta na eliminação de desperdícios.
“O objetivo dessas metodologias inovadoras é o gerenciamento ágil, que visa a entregar o valor antecipadamente”, destaca. Na abordagem de gerenciamento ágil, o projeto deixa de ser dividido em fases, como acontece com a gestão tradicional, para ser seccionado em ciclos, chamados de iterações. “Por exemplo, um projeto de engenharia de 18 meses pode ser quebrado em 18 iterações de um mês cada, gerando uma série de benefícios. É essencial, porém, uma mudança de abordagem por parte do gerente de projetos, que, utilizando as ferramentas disponíveis e abrindo-as para a participação de todos – do pedreiro ao engenheiro –, gera o empoderamento da equipe. Essa é a tendência, hoje, que vem ganhando o espaço antes ocupado pela prática de comando e controle (command and control)”, fala o consultor.
Os jovens para quem leciono gestão de projetos na universidade e em pós-graduação identificam-se plenamente com o conceito de gestão 3.0. É preciso que aqueles que estão atuando na área se abram para esse novo tempo João Gama Neto
Cada vez mais, portanto, a atuação do gerente transcende o projeto e alcança o produto que, no caso da construção civil, é o foco no empreendimento pronto. Para que tenha uma participação efetiva desde a concepção do projeto, atuando junto com o arquiteto, o profissional precisa conhecer e dominar algumas ferramentas. “O Design Thinking é a ferramenta que permite a ele entender a linguagem do projetista e colaborar a partir de sua abordagem de gestão, vinculando o projeto ao produto”, diz Gama Neto, alertando que, em breve, o gerente de projetos que não tiver essa habilidade perderá terreno na carreira.
Uma das mais recentes tecnologias, a Big Data, depois de incorporada pelos setores industriais e do varejo, desperta agora a atenção da construção civil. “Esse sistema tem grande valor para a engenharia, pois apresenta um levantamento atualizado dos projetos realizados, cronogramas, erros e acertos registrados, entre outros dados, que podem ser cruzados com informações disponíveis na internet e na base de dados da empresa e gerar respostas a partir das questões levantadas pelo usuário”, explica.
O consultor finaliza lembrando aos gestores de projetos que esse arcabouço tecnológico e de novos conceitos gerenciais encontram ressonância na chamada geração “Y”, ou geração digital. “Os jovens para quem leciono gestão de projetos na universidade e em pós-graduação identificam-se plenamente com o conceito de gestão 3.0. É preciso que aqueles que estão atuando na área se abram para esse novo tempo”, conclui Gama Neto
Redação AECweb / Construmarket
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João Gama Neto – Formado em Administração de Negócios, foi presidente do Project Management Institute (PMI) de São Paulo, onde também ocupou as posições de vice-presidente, diretor de Estudos Técnicos e conselheiro fiscal. É entusiasta das abordagens ágeis e um dos pioneiros do tema no Brasil, tendo apresentado o assunto em dezenas de congressos, seminários, cursos e eventos técnicos desde 2002.
Certificou-se PMP em 2005, CSM em 2007 e PMI-ACP em 2011, sendo o primeiro PMI-ACP do Brasil e um dos primeiros do mundo. Atuou profissionalmente no desenvolvimento metodológico, na gestão de PMOs, em portfólios, programas e projetos de grandes empresas, como Caixa Econômica Federal, BM&FBOVESPA, Porto Seguro, Petrobras, Companhia Paranaense de Energia, Usiminas, Carrefour e Philips.
Professor convidado de Escolas de Negócios para cursos de MBA em gerenciamento de projetos e revisor técnico das versões brasileiras dos livros “Gerenciamento de Projetos” de Harold Kerzner e “Estruturas Analíticas de Projeto”, de Eric Norman.