Entenda o que é e como funciona.

O que os cachorros abandonados nas ruas de Belo Horizonte têm a ver com a função do gestor de projetos da Construção Civil? Aparentemente nada, mas segundo Ruthe Pires, coordenadora da área de Meio Ambiente do Instituto de Educação Tecnológica (IETEC), com sede em Minas Gerais, o problema poderia ter sido evitado na implantação de um projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que substituiu uma favela da cidade por condomínio vertical.

Por falta de espaço, o condomínio não permitiu que os moradores levassem seus animais, que foram abandonados. Nas ruas, eles se tornaram um problema, pois reviram o lixo e, como não são vacinados, podem transmitir raiva e leishmaniose, doenças que têm se disseminado em Belo Horizonte. É uma questão de saúde e de meio ambiente, que não foi pensada na construção popular”, afirma.

CONFORMIDADE AMBIENTAL

De acordo com Ruthe, situações como esta fazem parte do trabalho do gestor de projetos, que também precisa conhecer a legislação ambiental e saber como obter os selos ambientais relacionados à Construção Civil. “As construtoras e incorporadoras estão adotando o Procel-Edifica, e implantar técnicas de eficiência energética nos empreendimentos é atribuição do gestor de projetos”, afirma.

O gestor precisa se preocupar com o conforto térmico e ambiental, com a iluminação natural e sistemas de ar-condicionado, visando reduzir o consumo de energia. Para a especialista ele não pode ser o engenheiro de obra. “Todo empreendimento tem sua relação custo-benefício e, se esse profissional for cuidar dos detalhes da obra que envolvem materiais muito caros, o risco de cometer erros é grande”, afirma.

Ruthe explica que o gestor de projetos se envolve com a compra de materiais, com a qualidade e com o fluxograma da obra, administra as questões relacionadas ao meio ambiente e deve conhecer a fundo a legislação ambiental. Compete a ele o cumprimento das exigências dos organismos ambientais para obter as licenças necessárias para a aprovação de um empreendimento antes da construção. “Aqui em Minas Gerais várias construtoras enfrentam problemas por construir sem licenciamento ambiental. É sabido que a situação se repete em todo o país, com a justiça simplesmente mandando demolir os condomínios”, afirma.

Além da legislação, explica, o gestor deve conhecer os impactos ambientais dos materiais de construção do berço ao túmulo, ou seja, desde quando o insumo é retirado da natureza até o descarte no caso de demolições ou de sobras das edificações. “Todos os elementos têm uma destinação final. Os resíduos sólidos podem ser usados como agregados na base de pisos”, diz.

COORDENAÇÃO DE PROCESSOS

A norma técnica NBR 14040 contempla esse processo e analisa o ciclo de vida dos insumos, suas emissões e os impactos ambientais em cada fase. Ruthe lembra que não adianta utilizar um produto biodegradável se a sua produção provoca muito mais poluição. “O gestor de projetos precisa ter conhecimento destas normas e dos produtos para poder executar seu trabalho de maneira adequada”, orienta.

Para fazer a administração empresarial do projeto o gestor também precisa dominar a gestão de recursos humanos e de negócios, da qualidade, logística de suprimentos e fluxograma da obra. Com isso, tem condições de definir a viabilidade econômica e financeira da execução. “Na verdade, o gestor de projetos é o coordenador dos projetos e processos de uma construção”, afirma.

FORMAÇÃO COMPLETA

Ruthe Pires comenta que ao concluir o curso de engenharia o formando precisa se integrar a esse processo ambiental, porque a graduação não dá conta de incluir tudo o que ele precisa saber em um curso de cinco anos. As novas tecnologias, por exemplo, não são ensinadas nas faculdades. “A gestão de projetos e o gerenciamento de materiais não são vistos na graduação e são necessidades do profissional”, diz.

Ela comenta que muitos engenheiros atuam em outros setores e que os cursos de MBA tentam atraí-los de volta ao mercado para suprir a falta de profissionais na Construção Civil. “Por outro lado, há um número enorme de cursos de engenharia e esses alunos, dentro de uns oito anos, correm o risco de ficar sem mercado de trabalho por excesso de oferta. Por isso, eles têm que sair da faculdade em busca de um diferencial para se colocar. Fico assustada com tanto curso novo de engenharia e arquitetura. Vai sobrar gente”, conclui.

Redação AECweb / Construmarket  



COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA:

 Ruthe Pires Coordenadora da área de Meio Ambiente do Instituto de Educação Tecnológica (IETEC). É doutoranda em Engenharia Metalúrgica – Polímeros na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Eficiência Energética – Avaliação do Ciclo de Vida pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).

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