Em grandes empreendimentos imobiliários o gerenciamento de projetos e o gerenciamento de obras devem caminhar juntos – sempre que possível – para evitar retrabalho e aumento dos custos. Na opinião do engenheiro Cláudio Riva, diretor da Projetar – Projetos e Sistemas, dependendo do porte, o projeto já nasce com uma equipe montada, e certas decisões, se forem deixadas para depois, podem prejudicar a qualidade do produto final.
“Quando as concepções são pensadas desde o início, as posições dos sistemas elétricos, hidráulicos ou de ar-condicionado são levadas para os melhores pontos do empreendimento para efeito de instalação. Quando isso não ocorre, o local escolhido pode se tornar inadequado por interferir negativamente em alguma característica arquitetônica ou por ocupar área muito nobre da edificação. Consequentemente, isso acaba tornando o projeto mais caro ou menos bem resolvido”, comenta.
Esses problemas, segundo diz, não estão ligados ao padrão do empreendimento, mas sim à forma como foram regidos. Riva cita como exemplo uma proposta que sua empresa recebeu da obra de um shopping, que já tinha a fundação pronta e começava a perfilar. “Já existia um projeto de elétrica e o cliente queria uma nova proposta de hidráulica. Neste caso, era possível executar, mas seria necessário fazer emendas, pois o momento da definição já havia passado”, explica.
Este tipo de situação ocorre quando a Gestão de projetos e a Gestão de obras são independentes. “Às vezes, tomamos uma decisão em conjunto com a equipe de projetos, mas na hora da construção um profissional de outro setor questiona e se torna necessário explicar tudo o que já foi decidido, pois nenhum responsável pela Gestão da obra participou da elaboração do projeto”, comenta.
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Outro complicador, diz Claudio Riva, é que em algumas construtoras a rotatividade do quadro de funcionários é grande. E isso causa a troca de interlocutores, dificultando a execução do trabalho. “Dificilmente se concebe arquitetura e estrutura sem ter o suporte de alguém. Geralmente a iniciativa parte da incorporadora ou de arquitetos que estão acostumados com o processo. Por isso o ideal é que a equipe de gerenciamento seja a mesma, participando do início ao final do processo”, diz.
Esse é, inclusive, o procedimento padrão de alguns clientes que se envolvem desde a concepção até a entrega final. Na maioria dos casos, o processo inteiro acontece dentro da incorporadora. A construtora é contratada com o projeto pronto e apenas executa o que foi definido anteriormente.
De acordo com o engenheiro, antigamente o ruído na comunicação atrapalhava a maioria dos clientes. Mas hoje esse problema foi reduzido. “A comunicação online ajuda, inclusive, na gestão de obras distantes e as soluções são discutidas com mais clareza utilizando esse recurso. A videoconferência, por exemplo, facilitou muito esse processo que era doloroso”, comenta.
No caso da Projetar, segundo informa, é quase que convencionado com os clientes que o projeto seja acompanhado desde o início. “Antes mesmo de contratados, recebemos as ações para conhecer o que está sendo proposto e sugerir soluções. A dificuldade em adotar este procedimento ocorre com quem não conhecemos ou com clientes novos”, afirma.
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Riva afirma, ainda, que com o nível de relacionamento que a empresa tem com o cliente, não é o papel que vai fazer a diferença. Muitas vezes, durante a execução do projeto acaba havendo alterações do escopo original e é necessário administrar a situação e fazer o cliente compreender que alguma característica será mudada.
“Esse tipo de relação sadia que se constrói com uma companhia que tem continuidade em seu quadro de funcionários, facilita o trabalho. Porém, existem situações em que os interlocutores são trocados duas ou três vezes e, nesses casos, é importante ter algo escrito, registrando o que foi combinado”, adverte.
GESTÃO DE IMPREVISTOS
Quando ocorre algum problema durante a execução da obra a questão volta às mãos do projetista. É o caso, por exemplo, de uma instalação hidráulica em que foram previstas furações em algumas peças estruturais (geralmente vigas), mas no momento da execução os furos não foram feitos corretamente. Nesse caso, o projetista terá que encontrar uma solução.
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Riva dá outro exemplo: “Na instalação elétrica nem sempre os clientes solicitam nosso acompanhamento para a escolha dos painéis elétricos. Eles deveriam enviar o desenho antes de comprar. Entretanto, mandam fabricar e entregar na obra. Quando recebemos, vemos que é necessário mudar algo, mas não existe mais tempo para alterações. Isso leva a adaptações que não deveriam ocorrer para não perder o prazo. Normalmente, as soluções não prejudicam a qualidade nem a segurança, porém não é o que o especificamos inicialmente”, conta.
Empreendimentos da Projetar: Espaço Raposo e Shopping Light, em São Paulo.
SOLUÇÕES CONJUNTAS
Para o especialista, o objetivo de um bom projeto é obter a solução melhor e mais econômica para o cliente, interferindo o mínimo possível no empreendimento e usando a menor quantidade de faixas nobres da obra em busca de um bom resultado para todos. “Essa soma de interesses dos profissionais envolvidos – cada um resolvendo da melhor forma a sua tarefa – resulta que todos têm de abrir mão de algo para fazer o melhor pelo conjunto”, diz.
É por isso que ele ressalta a importância da interação entre os sistemas de ar-condicionado, elétrico e hidráulico – adotada como prioridade pela sua empresa. “Separadas, fica mais difícil criar uma solução. Mas não integramos os três sistemas em todas as obras. Fazemos principalmente hidráulica e elétrica, que são muito interligadas. É importante, entretanto, que tudo o que se refere à baixa corrente – sistemas destinados à automação, segurança, telefonia e cabeamento de dados – tenha outro interlocutor.
ATENÇÃO A SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS
Em shoppings, por exemplo, reutilizar água de chuva ou água cinza é fundamental para a economia do empreendimento. Mas quando as edificações são certificadas – levando em conta o reaproveitamento de água pluvial e cinza para reuso – os procedimentos devem ser bem resolvidos para evitar riscos de contaminação. E, para isso, é essencial que o facilite ou gestor sejam qualificados, como acontece nas grandes obras. “Nos predinhos nos quais o responsável por esses processos será o zelador, que não entende direito o que deve ser feito, o risco de contaminação é sempre maior. Por isso é preciso atenção”, diz Riva.
Redação AECweb / Construmarket
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Claudio Riva é engenheiro eletricista formado pela Faculdade de Engenharia São Paulo (FESP), com especialização em Engenharia de Refrigeração e Ar-Condicionado, e em Engenharia Elétrica – Sistemas de Potência, geração e transmissão de energia pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). É diretor da Projetar Engenharia, responsável pela área operacional.