Para Carlos Magno da Silva Xavier, doutor em administração de empresas pela Universidad Nacional de Rosario (Argentina) e sócio-diretor da Beware Consultoria Empresarial, as falhas na gestão de projetos e obras são as principais causas de prejuízos de grandes construtoras. “Passamos recentemente por um boom imobiliário que serve como exemplo da capacidade técnica da engenharia brasileira, mas que ressaltou a nossa deficiência na gestão de projetos. Os atrasos e estouros de orçamentos, divulgados na mídia, mostraram a falta de previsibilidade desses projetos”, diz Xavier, que também é um dos autores do livro Gerenciamento de Projetos de Construção Civil (Editora Brasport).
Passamos recentemente por um boomimobiliário que serve como exemplo da capacidade técnica da engenharia brasileira, mas que ressaltou a nossa deficiência na gestão de projetos Carlos Xavier
Diante desse cenário, muitas empresas vêm concluindo que é melhor construir menos e gerenciar melhor as obras para se alcançar um retorno mais alto dos investimentos. “É o caso da PDG, a maior construtora do país em 2011, que verificou que suas obras custaram R$ 1,4 bilhões a mais do que o previsto, conforme divulgado na Revista Exame de maio de 2014”, exemplifica o profissional. Uma das consequências positivas, segundo ele, é que tem crescido a procura por cursos e consultorias voltados para a construção civil.
Para que a gestão de projetos seja eficiente, é preciso que a estrutura organizacional contemple aspectos específicos, de acordo com o perfil do setor. Magno esclarece que muitos projetos na área de construção civil possuem orçamentos anuais maiores que milhares de empresas. “Por isso, a importância de a organização ser mais ‘projetizada’, com metas sendo estabelecidas para os gerentes em cada projeto, e dando a eles a independência e a autoridade necessárias para gerenciar os recursos necessários”, menciona Xavier.
GOVERNANÇA DE PROJETOS
Como uma empresa possui diversos projetos em andamento, sua estrutura organizacional deve incluir a governança de projetos. “A governança é responsável pela estrutura, processos, modelos de tomada de decisão e ferramentas de gerenciamento de projetos, apoiando e controlando, a fim de oferecer uma entrega bem-sucedida para o cliente. É ela que estabelece a metodologia e o software de gerenciamento de projetos, a capacitação das pessoas, a gestão do conhecimento e o PMO (Escritório de Suporte ao Gerenciamento de Projetos)”, explica.
A governança de projetos é responsável pela estrutura, processos, modelos de tomada de decisão e ferramentas de gerenciamento de projetos, apoiando e controlando, a fim de oferecer uma entrega bem-sucedida para o cliente Carlos Xavier
TRABALHANDO COM METAS
De acordo com Xavier, o engessamento da estrutura organizacional acaba por criar empecilhos à ação do gestor de projetos, comprometendo os resultados do seu trabalho. Em uma organização com modelo funcional ou matricial, que é o mais comum nas construtoras, os gerentes de projeto têm pouco poder na resolução de conflitos e na negociação com outras áreas da empresa, que muitas vezes recebem metas que não estão diretamente relacionadas ao sucesso do projeto. “Por exemplo, uma meta de redução de custo para o setor de compras pode ameaçar a qualidade dos bens e serviços contratados e, consequentemente, o projeto”, comenta.
O consultor alerta que não adianta estabelecer metas para o gerente do projeto se ele não tem poder de decisão. “Porém, é importante trabalhar com limite de competência, de maneira que as decisões do gerente não tragam riscos para o negócio”, diz, exemplificando: “É o caso de uma mudança da estratégia de condução do projeto que reduza em demasia o lucro do empreendimento ou crie um problema sério no relacionamento com o cliente”.
CASE DE SUCESSO
Xavier, que faz parte da banca de jurados do prêmio da revista Mundo PM, cita um case de estrutura organizacional considerado de excelência, o da Promon Engenharia, eleito como o melhor do ano de 2012. “Eu gosto muito da estrutura dessa empresa, na qual os contratos são gerenciados como projetos autônomos nas unidades de negócio, com o apoio de um PMO que fica subordinado à Diretoria de Gestão do Conhecimento”, declara, revelando os detalhes dessa estrutura:
Créditos: Promon Engenharia (reprodução)
Redação AECweb / Construmarket
Leia também:
Tendências em gestão de projetos no Brasil
Redes sociais e apps a favor da gestão de projetos
O sucesso do projeto está na comunicação
Colaborou para esta matéria:
Carlos Magno da Silva Xavier – Doutor em administração de empresas pela Universidad Nacional de Rosario (Argentina) e Sócio-Diretor da Beware Consultoria e Treinamento em Gerenciamento de Projetos, Programas e Portfólio. Sua experiência profissional, de mais de 20 anos, inclui a consultoria na sistematização do gerenciamento de processos, projetos, programas e portfólio em várias organizações (Eletronuclear, BR Distribuidora, Eletropaulo, Marinha do Brasil, Petrobras e outras).
É autor e coautor de 14 livros, entre eles “Gerenciamento de Projetos de Construção Civil”. É certificado “Project Management Professional” (PMP) pelo Project Management Institute (PMI) e professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), UFRJ e Fundação Dom Cabral. Foi eleito, em 2010, uma das cinco personalidades brasileiras da década na área de gerenciamento de projetos.