A especialista propõe a adoção dos princípios da engenharia simultânea como sistemática de projeto e de novas tecnologias computacionais que trabalhem o modelo tridimensional do edifício. O projeto simultâneo pode trazer muitos benefícios para a integração entre projeto e execução da obra, uma vez que permite que os agentes envolvidos interajam mais desde as fases iniciais de concepção do empreendimento. “Mas, para tanto, é necessário que se promova uma transformação cultural nas empresas, a partir da valorização da interação da equipe de construção. E, ainda, que haja uma reorganização do processo, com a gestão de projeto acontecendo em paralelo às disciplinas envolvidas, em detrimento do modo sequenciado de projetar”, ensina.
Hoje, a alta fragmentação das etapas durante o processo de produção de edifícios resulta em projetos mal detalhados e não compatibilizados, com impactos negativos não somente durante a execução, como também na pós-ocupação do edifício. O que se tem são projetos que, por sua não atualização constante, ficam obsoletos e nada contribuem para a qualidade da execução.
De acordo com Aline, a falta de compatibilização entre projetos de arquitetura e projetos complementares também pode impactar a obra de forma recorrente. “Comumente, projetos de estruturas, instalações hidráulicas e ar-condicionado sofrem alterações durante a execução devido à falta de reuniões, nas quais os agentes possam conversar formalmente sobre a busca de soluções para os projetos”, comenta, ressaltando que, em geral, os projetistas não têm conhecimento acerca do processo produtivo. Dessa forma, os edifícios são construídos a partir de soluções projetuais equivocadas, ou até mesmo impraticáveis. No canteiro, os responsáveis pela construção alteram os projetos sem discutir as soluções com os projetistas. “A ausência de pessoas capacitadas para os momentos de decisão durante a execução leva a alterações improvisadas e à necessidade de refazer determinados trabalhos”, sublinha.
Aliada do gestor, a tecnologia Building Information Modeling (BIM) torna possível verificar falhas durante o processo de concepção do projeto, a partir da simulação do objeto arquitetônico. A ferramenta computacional tem por objetivo antecipar os problemas na fase de projeto a partir de um modelo tridimensional que permite um planejamento mais coerente. Além disso, o BIM é importante no auxílio à equipe de obra, tanto para o estudo das interfaces entre as disciplinas envolvidas, quanto para a própria apresentação do projeto para os agentes.
“A adoção do BIM exige que os agentes das equipes de projeto e obra discutam as modificações constantes, para que este modelo tridimensional anteriormente concebido esteja de acordo com o empreendimento em construção. Uma vez que o projeto for desenvolvido a partir de um modelo em três dimensões, este deve ser alimentado constantemente em virtude das alterações que a construção do edifício gera no projeto ao longo da execução”, observa Aline, lembrando que a atualização do modelo do edifício pode ser realizada somente a partir da montagem de um sistema de reuniões ou encontros formalizados, que promovam a comunicação e a interação entre os agentes.
Atualmente, várias publicações de autores brasileiros e diversos pesquisadores do Reino Unido, Estados Unidos e de outros países afirmam a importância da sistematização de reuniões que promovam a comunicação ‘face a face’ dos agentes, visando a integração das etapas de projeto e obra. Segundo Aline, para que o coordenador de projetos possa atuar na busca de soluções para os projetos é fundamental que haja uma mudança na postura das empresas de construção. Os agentes envolvidos na construção do empreendimento precisam acreditar na importância da integração das etapas e incorporar um método sistemático de reuniões para suas rotinas. “Além da mudança da rotina da empresa, é necessário que todos os agentes, sejam eles empreendedores, projetistas, engenheiros, consultores, subempreiteiros e equipe de obra, participem ativamente das reuniões, para que a interação e a comunicação na equipe se tornem mais eficazes, trazendo qualidade e desempenho ao projeto e, consequentemente, à execução do empreendimento”, finaliza.
Redação AECweb / Construmarket
Aline Valverde Arrotéia – Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC – Goiás), atua desde 2009 no desenvolvimento de projetos de arquitetura e urbanismo, detalhamento de interiores, gestão e execução de obras nos Estados de Goiás e Mato Grosso. Especialista em Gestão e Tecnologia de Produção de Edifícios pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Mestre em Engenharia Civil pelo Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil (PPG-GECON) pela UFG. Professora adjunta do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Alves Faria (ALFA), ministrando disciplinas de Projeto I, Projeto II, Conforto Ambiental e Desenho Técnico. Pesquisadora nos temas relacionados à Gestão do Processo de Projeto, Interface Projeto-Execução de Obras, Comunicação dos agentes e Tecnologias BIM (Building Information Modeling).
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