De acordo com a arquiteta Gisele de Luca, gerente de Projetos da Tecnisa, as principais características de um projeto arquitetônico de empreendimentos inclusivos – ou seja, que atende a todos os públicos – começa com o cumprimento das regras de acessibilidade contidas na norma brasileira ABNT NBR 9050.

“No momento em que aplicamos a norma de acessibilidade ao edifício não estamos somente atendendo ao idoso, mas a qualquer pessoa portadora de dificuldade temporária ou permanente. A norma ABNT NBR 9050 é para pessoas portadoras de deficiência física e, querendo ou não, o idoso, com o passar do tempo, acaba tendo dificuldades visuais ou motoras. Com a inclusão da acessibilidade ao projeto, atendemos também a terceira idade”, diz.

De acordo com a gerente, as especificidades de um empreendimento inclusivo não aumentam o prazo e o custo do projeto, se comparado a um edifício convencional. “E nem dificultam o trabalho do gestor de projetos”, ressalta, acrescentando que, quando já se projeta com essas orientações, o prazo e os custos são os mesmos.

A opção por incorporar recursos de acessibilidade dispensa a realização de pesquisas, pois são soluções que já existem no mercado, só que não estavam sendo aplicadas. “Desenhar uma escada, colocar um corrimão, fazer uma rampa com a inclinação correta são ações que não geram dificuldade. Isso já sai do papel e não consome mais tempo.

E quando colocamos no custo da obra essas diretrizes, estamos trocando escada por rampa, piso brilhante por fosco. Portanto, nada que encareça o projeto. Os custos extras acontecem quando se projeta um empreendimento e, depois, vem a decisão de implantar a consciência gerontológica, porque haverá retrabalho”, observa.

A receita de um bom projeto, segundo ela, é abrangente quanto às providências projetuais e de materiais para a acessibilidade, o que amplia o atendimento a vários públicos – da mulher grávida a um morador com o pé quebrado.

“Procuramos inserir no projeto alguns diferenciais. É o caso das instalações de hidráulica e elétrica em uma altura de fácil utilização, e acabamentos como pisos que não tenham autobrilho, já que podem gerar dificuldade visual. As soluções são empregadas não somente na parte construtiva, mas também de paisagismo e decoração, para que o projeto seja acessível e inclusivo”, explica Luca.

 

 

 

CONFORTO E SEGURANÇA

Conforto e segurança são pré-requisitos para um bom projeto inclusivo. “É preciso conciliar as duas questões. Não adianta ser bonito sem ser confortável e seguro, e também não pode ser seguro e não ser confortável. É preciso trabalhar os dois conceitos para a melhor utilização do empreendimento”, diz a arquiteta.

Ela completa: “Os empreendimentos da Tecnisa são conceituados como moradias para a vida toda. A ideia é que o morador possa fazer uso em qualquer fase, inclusive na terceira idade. Por exemplo, o acesso às piscinas é feito por escadas de alvenaria ou rampas, e com corrimão. Ao fazer isso, estamos atendendo desde uma pessoa idosa, que tem dificuldade para entrar na piscina, até uma mulher grávida ou alguém que acabou de retirar o gesso do pé e ainda está com dificuldade de andar”.

Desenhar uma escada, colocar um corrimão, fazer uma rampa com a inclinação correta são ações que não geram dificuldade. Isso já sai do papel e não consome mais tempo Gisele Santos de Luca

ÁREAS COMUNS

Nas áreas comuns, todos os corredores e portas seguem as medidas da norma para que um cadeirante possa transitar com tranquilidade. As portas do térreo contam com vidro jateado na parte inferior e recursos de comunicação visual alertando que ali é um vidro. “Isso serve tanto para um idoso quanto para uma criança.

As rampas são construídas com a inclinação pedida pela norma e, assim como as escadas, todas são dotadas de corrimãos. A pista de caminhada não é feita em pedrisco porque pode dificultar o caminhar do idoso”, conta.

As áreas de lazer são as mesmas da maioria dos empreendimentos residenciais. “Salão de jogos, área gourmet e sala de ginástica. Mas a preocupação com a terceira idade está nos elementos de decoração. No salão de jogos e de festas não são usadas cadeiras, mas sim poltronas.

O idoso, ao se levantar, usa os braços da poltrona como apoio. Não usamos estofados muito fofos porque as pessoas afundam. Porém, damos preferência aos mais resistentes para facilitar o movimento na hora de levantar. As mesas têm quatro pés ou pé central bem grande, já que o idoso utiliza o tampo da mesa para se apoiar. Abolimos as mesas de centro de vidro, porque o vidro pode não ser visto, assim como espelhos também podem gerar confusão.

A iluminação é apropriada a cada ambiente para evitar áreas de sombra. Na sala de ginástica sempre vai ter um equipamento que o idoso possa usufruir”, comenta a Luca.

Quando colocamos no custo da obra essas diretrizes, estamos trocando escada por rampa, piso brilhante por fosco. Portanto, nada que encareça o projeto. Os custos extras acontecem quando se projeta um empreendimento e, depois, vem a decisão de implantar a consciência gerontológica, porque haverá retrabalho Gisele Santos de Luca 

ÁREA INTERNA

Os apartamentos também seguem as regras de acessibilidade exigidas por lei. Além disso, a empresa mantém uma área de personalização do projeto, que estuda cada caso visando atender a necessidade dos moradores.

“Desenvolvemos projetos personalizados para o proprietário com necessidades especiais, como portas e vãos mais amplos para quem usa andador ou a eliminação de desnível entre o banheiro e o boxe”, afirma a arquiteta.

 

 

CONSTRUINDO COM CONSCIÊNCIA GERONTOLÓGICA

Criado oficialmente em 2009, o projeto ‘Construindo com Consciência Gerontológica’ surgiu em 2007, em um empreendimento no bairro da Pompéia, em São Paulo, onde foi feito um experimento.

“A maioria das pessoas que compraram os apartamentos nesse prédio tinha mais de 55 anos de idade. E foi aí que a Tecnisa descobriu uma tendência. Só que a área de lazer do empreendimento estava muito focada em jovens, com parede de escalada, fitness com equipamentos mais voltados para musculação, salão de jogos e área de esportes. E para as pessoas mais velhas não havia nada além do salão de festas.

Fizemos uma experiência com a criação do ‘Clube da Experiência’. Um ambiente favorável a juntar os públicos, sem segregar. Um espaço único para todas as idades. Com uma decoração lúdica e flexível, o espaço permitia diversas atividades de forma democrática. Assim, mudou-se um ambiente para atender a um público que foi identificado depois da compra do imóvel”, diz a gerente.

A partir daí, segundo ela, a Tecnisa reuniu as equipes de projeto, marketing, uma gerontóloga, uma assistente social e uma fisioterapeuta para pensar em como aplicar esses conceitos em empreendimentos, sem que eles ficassem com ‘cara’ de edifício voltado para a terceira idade.

“O Consciência Gerontológica não é um projeto que visa fazer um empreendimento para o idoso, mas para públicos de todas as idades. Ao comprar um imóvel aos 40 anos, o morador sabe que pode envelhecer lá sem preocupações. Além das exigências normativas, há outras soluções que podem ser incorporadas em um empreendimento e serão úteis a todos. Foi aí que surgiu o Consciência Gerontológica, visão presente em todos os empreendimentos da empresa”, conclui.


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Redação AECweb / Construmarket


Colaborou para esta matéria

Gisele Santos de Luca – Formada em Arquitetura e Urbanismo, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), e pós-graduada em Gestão de Negócios Imobiliários pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Atualmente cursa também o programa de Desenvolvimento de Lideranças, pela Fundação Dom Cabral. Atuante na área de arquitetura e construção civil desde 1993, adquiriu experiência no desenvolvimento de projetos, atendendo a questões legislativas, ambientais e construtivas.

Possui experiência em fornecer suporte aos escritórios de arquitetura e demais especializações de projeto (estrutura, alvenaria estrutural, paisagismo, fundações, hidráulica, elétrica e etc.) durante a concepção e compatibilização do empreendimento, até o lançamento no mercado imobiliário.

Desde 2013 atua na gestão da equipe de Desenvolvimento de Produtos e Projetos Executivos do Estado de São Paulo, no departamento de Projetos da Tecnisa S/A.

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