O trabalho do gestor de projetos em empreendimentos logísticos ou industriais não difere muito de sua atuação em outros segmentos da Construção Civil, afirma o engenheiro Francisco Ayres Vicentini, da construtora GR Properties. Na opinião do profissional o gestor precisa conhecer bastante o empreendimento e sua operação.
No caso de centros logísticos ele precisa entender o funcionamento dos estacionamentos, como são realizadas as manobras dos caminhões, instalações de refeitórios, enfermaria, setor administrativo, salas de reuniões, de treinamento, entre outros. “Tudo isso faz parte do projeto visando o bom desempenho das atividades que os usuários irão desenvolver no local”, afirma.
Para ele, o gestor de projetos – seja ele engenheiro ou arquiteto –, não precisa ter conhecimento específico de cada sistema, mas tem que conhecer a fundo a operação e suas necessidades.
“Imagine uma carreta manobrando onde tem um pilar com instalação de rede de água. Com certeza criará problemas para o usuário. Isso é evitado na fase do projeto e, se o gestor não entender bem da operação, vai deixar passar. A rua para a manobra das carretas pode ser estreita, mas vai exigir maior número de manobras, desgastando o piso mais rapidamente e encarecendo a manutenção. Esse e outros detalhes só podem ser avaliados pelo gestor se ele conhecer bem o produto”, diz.
Trabalho colaborativo
Vicentini lembra que uma obra demanda vários tipos de projeto, como o de arquitetura, de fundações, estrutura, saneamento, hidráulica, elétrica, iluminação, ar-condicionado, tecnologia da informação, decoração, paisagismo e acabamento.
“O projeto completo é obtido com a participação de todos os profissionais reunidos em uma mesa, juntando as informações para se chegar ao produto desejado, pensando que, quando entrar na fase de construção, não pode haver problemas”.
Na fase de concepção, os vários projetistas em conjunto com o gestor compatibilizam todos os projetos que compõem os empreendimentos logísticos, evitando qualquer descompasso entre eles.
“Imagine que na rua central de um empreendimento logístico passa a tubulação de água, esgoto, rede elétrica, instalação de segurança e sensores de incêndio. Esses projetos têm que ‘conversar’ entre si para evitar conflitos, e isso é avaliado pelo gestor”, diz.
Caso ocorra algum imprevisto na execução da obra, como na terraplanagem surgir uma rocha que não havia sido detectada na vistoria do terreno, o pessoal de campo tem que acionar o gestor de projeto para definir o que deve ser feito.
“Se o engenheiro de obra tentar uma solução caseira, pode deixar de considerar premissas importantes definidas na fase de projeto e comprometer a obra”, diz. Por isso, é bom chamar o gestor de projetos. Vicentini comenta que na GR Properties não ocorrem gaps entre projeto e produção.
“Contratamos escritórios de arquitetura e projetistas dos vários sistemas que conhecem bem o produto, o que facilita para chegarmos ao produto final com qualidade”, afirma.
Empreendimentos logísticos e modelo BIM
O engenheiro Vicentini diz que sua empresa está utilizando o BIM – Building Information Model (Modelo de Informação da Construção), software em 3D que cruza todas as informações dos vários projetos e acusa se há interferência entre eles.
“Todos os projetistas alimentam o software com suas informações, que monta os processos da obra, indicando possíveis problemas”, explica, acrescentando que, apesar de introduzido no setor há cerca de cinco anos, o BIM ainda é pouco utilizado no Brasil.
“Não é difícil trabalhar com o software, mas precisa ser alimentado com grande volume de informação de todos os sistemas que compõem uma edificação. No caso da hidráulica, por exemplo, precisa ter em sua memória, todas as peças que existem à disposição no mercado. O mesmo ocorre com os demais itens. Conforme os projetistas vão formatando seu trabalho, o BIM vai indicando se está tudo correto ou se existe algum problema a ser resolvido”, informa.
O bom desempenho dessa ferramenta depende, também, dos fabricantes de materiais e sistemas que precisam fornecer subsídios para serem cadastrados. “Esse passo é fundamental para que os projetistas possam realizar seu trabalho com mais agilidade”, comenta.
Bom projeto para empreendimentos logísticos agiliza o trabalho
O engenheiro explica que, após a aprovação do projeto, a construção de um empreendimento industrial é rápida – demora em torno de 10 a 12 meses para ser concluída. Nesse período, são consumidos com a terraplanagem de 90 a 120 dias.
“A construção em si é muito rápida e isso exige que o projeto chegue redondo na fase de obras. Por isso, trabalhamos bastante nele, para que a obra ande rápido e sem problemas”. A elaboração de um projeto, segundo ele, leva cerca de três meses para ser concluída e esse tempo precisa ser reduzido.
Ele comenta que o mercado de centros logísticos e de condomínios industriais está aquecido e que os escritórios de arquitetura e de projetos de sistemas estão com muito trabalho. “A redução desse prazo passa pela melhoria da qualidade dos profissionais e pela qualidade dos equipamentos à disposição deles”, diz.
“Os escritórios de projetos estão com programas de computador mais modernos, só que também muito sobrecarregados”, diz. Os projetos construtivos são cada vez mais complexos exigindo a atualização dos softwares e dos computadores. “Creio que, se o BIM for mais utilizado pelo mercado, o tempo gasto para se chegar a um projeto tende a diminuir bastante”, afirma.
Redação AECweb / Construmarket
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Francisco Ayres Vicentini: Engenheiro Civil da GR Properties é graduado pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) em 1979, com extensão na Escola Politécnica da USP (Poli-USP), Fundação Vanzolini em Gerenciamento e Coordenação de Obras.
Com mais de 30 anos no segmento, participou da expansão de empresas como a Ford, GM, Brasinca, Hoechst, Asea Brow Boveri, Trorion, Metaldyne, Ogura Clutch, Açofran, Eletrocloro e Irmãos Guimarães. Atuou na implantação de lojas de varejo nos shoppings West Plaza e Aricanduva, em São Paulo, e Shopping Galeria, em Campinas.
Coordenou projetos e execução em mais de 200.000 m² de edifícios residenciais e comerciais e obras institucionais no Dersa e INSS. Implantou loteamento e condomínio industrial em Indaiatuba/SP em área de 330.000 m².