Redação AECweb / Construmarket
Compatibilizar projetos é uma tarefa multidisciplinar que envolve, além do arquiteto, os diversos projetistas responsáveis pelos projetos de engenharia necessários a uma edificação. Tem por objetivo fazer a interface entre as várias disciplinas e resolver com sucesso os problemas históricos provocados pela fragmentação dos projetos do setor construtivo. “Com esse trabalho é possível reduzir e até eliminar os problemas que surgem no canteiro de obras, como interferências físicas e perda de funcionalidade, que geram retrabalho, aumentam os custos e provocam atrasos”, afirma a arquiteta e urbanista Patrizia Chippari, sócia e diretora do escritório Espaço Livre Arquitetura.
Patrizia ilustra com um caso real o que pode ocorrer quando os projetos não são compatibilizados. “Um construtor utilizava no canteiro de obras o projeto aprovado na prefeitura. Caso a caso, buscava soluções práticas quando ocorria algum conflito entre uma instalação e outra. Certo dia, o mestre de obras o chamou para ver o que fazer com um problema sério. O duto da churrasqueira dos apartamentos-tipo dava na porta de entrada da residência da cobertura do edifício. Foi preciso desviar o tubo, correndo o risco de as churrasqueiras não funcionarem a contento, e alterar o acesso ao apartamento da cobertura depois de o prédio estar praticamente pronto. O construtor trabalhava com a falsa ilusão de que estava economizando, pois seu investimento em projeto era pequeno, mas depois disso passou a se preocupar em resolver os problemas ainda na fase de projetos por meio da gestão e da compatibilização”, conta.
Outro problema que ocorre com certa frequência é a tubulação de hidráulica se chocar com uma viga de concreto. A profissional explica que na fase de projeto é possível fazer a alteração sem dificuldade, mas se a falha for identificada no canteiro não tem muita saída. Como na maioria das vezes não é possível furar a estrutura após sua concretagem, deve-se alterar o projeto da tubulação, destruindo o que já estava feito para fazer a adaptação, gerando atrasos e aumento de custos.
O grande benefício da compatibilização é que essas interferências físicas são resolvidas na fase de elaboração do projeto, evitando problemas na obra. Na prática, durante a concepção do projeto, utilizando-se dos recursos de softwares como AutoCad ou Revit, é feita a sobreposição dos desenhos de cada projetista com o objetivo de identificar e corrigir interferências entre todos os projetos.
Em sua opinião, desenvolver projetos desta forma, que representa um investimento em torno de 1% a 2% do custo do empreendimento, minimiza conflitos entre projetos, simplifica a execução da obra, racionaliza o uso dos materiais e otimiza o tempo da construção. Existem estudos comprovando que o projeto desenvolvido com Gestão e Compatibilização reduz entre 5% e 8% o custo total da obra. “O projeto exerce considerável influência sobre os custos das edificações e, à medida que ele evolui e inicia-se a obra, a possibilidade de interferências diminui consideravelmente. Por isso a importância de se investir tempo em seu desenvolvimento. A maior parte dos desperdícios em uma obra é fruto da falta de compatibilidade entre os projetos”, afirma. Outra vantagem é garantir que a edificação seja construída conforme concebida, evitando o risco de entregar algo diferente do que foi definido no escopo.
Um projeto executivo para uma obra de dez mil metros quadrados demora em torno de dez a 12 meses para ser desenvolvido. Esse é o tempo médio para projetos de condomínios residenciais ou corporativos. Envolve entre dez e 15 projetistas para chegar ao projeto executivo final. Embora a quantidade de projetos seja praticamente a mesma para qualquer tipo de construção, quando o porte da obra aumenta e cresce em complexidade, exige número maior de profissionais para desenvolvê-los.
O arquiteto, segundo informa Patrizia Chippari, trabalha seguindo as exigências do escopo aprovado pelo cliente e desenvolve o projeto legal, aquele que será aprovado pelo poder público municipal. Os demais só começam a ser desenvolvidos após a aprovação do projeto legal.
O ideal é que, na elaboração do projeto executivo final, todos os projetistas das diversas áreas participem. Compatibilizar projetos se resume na sobreposição dos vários projetos construtivos como: estrutura, fundações e sondagens, hidráulica, sanitários, instalação dos equipamentos de prevenção de incêndio, climatização, ar-condicionado, instalações elétricas e de telecomunicações, impermeabilização, paisagismo, arquitetura de interiores, eficiência energética e itens de sustentabilidade.
O processo de compatibilizar projetos deve seguir as orientações do Gestor de Projetos, que tem a função de administrar o cronograma, prazos, custos, equipes de trabalho e demais itens previstos no escopo. O gestor também atua em conjunto com a incorporadora, que tem o estudo de viabilidade financeira da obra, cuja informação deve estar alinhada ao desenvolvimento do projeto. “É importante que o gestor tenha o olhar treinado e bom conhecimento técnico das soluções que envolvem um projeto executivo. Ele é quem irá administrar a evolução dos projetos, seguindo o que está definido no escopo, principalmente no que diz respeito a custo e prazos”, diz.
Com a compatibilização e ajustes entre os diversos desenhos, chega-se ao projeto executivo final. Com ele, a construtora elabora o orçamento da obra com uma ordem de grandeza mais próxima do real e pode iniciar o processo construtivo. “Embora exista há mais de dez anos, esta prática ainda não é uma realidade para muitas empresas construtoras ou incorporadoras, resultando na constatação de problemas sérios em inúmeros empreendimentos, como retrabalho, aumento de prazos e desperdício de materiais”, conclui Patrízia.
Patrizia Chippari – Arquiteta e Urbanista, graduada pela Universidade Mackenzie – SP, começou a sua carreira na cidade de São Paulo. Em 2004, idealizou uma empresa para oferecer não somente o projeto arquitetônico, mas também a compatibilização com os projetos de engenharia e o gerenciamento do seu desenvolvimento. Desde então, é sócia e diretora do escritório Espaço Livre Arquitetura, como sede em Florianópolis – SC.
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