Caminho Crítico é um instrumento dinâmico de planejamento e controle do projeto. Em disputas judiciais envolvendo atrasos de cronograma de obras, é essa ferramenta de gestão que vai esclarecer a responsabilidade das partes envolvidas. “O que se faz é analisar e confrontar o Caminho Crítico do cronograma da Linha de Base com o realizado”, afirma Ettore Dall’Amico, diretor da Schédio Engenharia Consultiva e Gerenciamento.
O cronograma da Linha de Base é o contratual, pactuado entre o cliente e a construtora. Nele está identificado o Caminho Crítico, que consiste no conjunto de atividades que define o prazo total do projeto através do cronograma. “A sua utilização é realizada de forma prospectiva, do início para o fim da rede de precedências, durante todo o tempo de execução do projeto, visando a analisar e a controlar preventivamente os atrasos”, destaca.
O Caminho Crítico permite acompanhar as atividades que podem gerar mais riscos de atraso ao cronograma (ra2studio / Shutterstock.com)
Cabe ao profissional de Planejamento calcular o Caminho Crítico, a partir do cronograma executivo acordado do projeto (Linha de Base), bem como avaliar as precauções necessárias para que as atividades nele contidas não sofram atrasos. Por exemplo, a mobilização de recursos adequados e em tempo compatível, a garantia de liberações de trabalho e áreas, e as interferências do trabalho dessas atividades com outros projetos ou atividades.
De acordo com Dall’Amico, conhecer previamente este conjunto de atividades permite que ações de gestão sejam direcionadas exatamente para elas. “O Caminho Crítico indica as atividades que devem ser monitoradas com maior cuidado, por representarem risco de atraso ao cronograma. Os atrasos nas atividades críticas são circunstâncias discretas, que acontecem de forma cronológica e acumulam-se ao atraso geral da conclusão do projeto”, explica.
AS BUILT CRITICAL PATH
Na fase de conclusão da obra, o gerente do projeto tem em mãos uma nova ferramenta: o Caminho Crítico Realizado ou Caminho Crítico Conforme Construído (As Built Critical Path). “Essa é uma referência indicativa de como o projeto, ou parte dele, foi realmente executado, revelando a sequência lógica construtiva adotada: as datas de início, término e as durações reais de cada atividade executada do projeto”, ensina Dall’Amico.
O Caminho Crítico indica as atividades que devem ser monitoradas com maior cuidado, por representarem risco de atraso ao cronograma Ettore Dall’Amico
Durante a execução do projeto, o profissional é responsável por dispor de um cronograma atualizado, que mostra a sequência executada numa ótica retrospectiva. A base de cálculo do Caminho Crítico Realizado é o cronograma atualizado conforme executado (as built), e deve ser validado por registros do projeto.
“Enquanto o Caminho Crítico é um instrumento de planejamento que vislumbra a execução futura das atividades do projeto, numa visão prospectiva, o Caminho Crítico Realizado é uma informação que torna evidente e dá transparência à sequência lógica executada das atividades do projeto”, ressalta Dall’ Amico.
De acordo com ele, o Caminho Crítico de um projeto é comumente visto por profissionais de Gestão de Projetos como um instrumento dinâmico, sujeito a mudanças ao longo do tempo de execução. Isso sugere que o Caminho Crítico Realizado possa ser, ao término do projeto, diferente do Caminho Crítico Planejado.
CONFRONTANDO
Ao confrontar o As Built Critical Path com o Caminho Crítico, é possível identificar o que deveria ter acontecido ao longo da obra e os motivos pelos quais aconteceu de forma diferente do previsto. “Isto permite identificar os reais responsáveis pelo atraso do contrato”, diz o consultor. O instrumento, amplamente utilizado nas disputas judiciais tanto de obras públicas quanto privadas, é definitivamente esclarecedor.
Há falhas na gestão de contratos tanto na área pública quanto na iniciativa privada Ettore Dall’Amico
Dall’ Amico menciona um litígio ainda em curso, no qual a contratada conseguiu esclarecer as responsabilidades contratuais da contratante pelo atraso da obra. Nesse caso, a contratante tentou impor culpa à contratada e cobrar prejuízos decorrentes do atraso do início da operação da planta fabril. Entretanto, através do cálculo do Caminho Crítico Realizado, a tese da acusação ficou totalmente esvaziada.
DESCONHECIMENTO
De acordo com o consultor, nem todos os contratantes e construtoras utilizam essas ferramentas de gestão, por falta de conhecimento. “Há falhas na gestão de contratos tanto na área pública quanto na iniciativa privada”, comenta. Cabe ao gerente de projetos fazer o acompanhamento e registrar, através de cartas, e-mails e relatórios, com acompanhamento fotográfico, todo o processo da obra, em constante troca de informações com o contratante.
Papel importante das ferramentas é permitir ao gerente analisar o cronograma da obra finalizada para que, num próximo empreendimento, tenha os resultados como lição aprendida. “Ou, pelo menos, ensinada”, brinca Dall’ Amico, dizendo que “a gestão ensina, mas nem todos aprendem”.
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Redação AECweb / Construmarket
Colaboração técnica:
Ettore Dall’Amico – Engenheiro Eletricista formado pela Universidade Santa Cecília, Santos/SP. MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV. Experiência de 30 anos em engenharia e gerenciamento de projetos, tendo atuado em empresas como Bechtel, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão em obras nacionais e no exterior. É diretor da Schédio Engenharia Consultiva e Gerenciamento.