O ambiente da construção civil é altamente desafiador para os modelos de gestão, e muitas abordagens tradicionais têm fracassado em entregar resultados satisfatórios. “Existem, no entanto, várias boas práticas que podem melhorar a performance do setor”, afirma o doutor em engenharia civil Giulliano Polito, diretor de Engenharia na BHG. Entre essas práticas estão gestão de escopo, gestão da comunicação, logística, engenharia de valor, análise de construtibilidade, entre outras. “A principal é a integração entre gestão de projetos, desenvolvimento do produto e gerenciamento da produção”, recomenda.
O gerenciamento de projetos diz respeito às atividades que devem ser realizadas para que o empreendimento seja executado dentro do prazo, custo e qualidade previstos. Cabe ao gerente de projetos identificar o escopo, os requisitos, os stakeholders e suas expectativas, e estabelecer os planos de comunicação, de custos e de prazos.
De acordo com Polito, o gerenciamento de projetos é fundamental. É uma disciplina clara, funcional e traz grandes resultados no gerenciamento de empreendimentos da construção civil. “A prática tem nos mostrado, porém, que empresas que aplicam e têm um grau de maturidade elevado em gerenciamento de projetos nem sempre conseguem atingir o resultado proposto”, observa.
Muitas empresas perdem o controle sobre os projetos no custo, prazo, qualidade e atendimento às exigências dos stakeholders. Isso se explica pela complexidade dos projetos de construção civil, pois envolvem diversas interfaces e projetistas multidisciplinares; stakeholders que vão dos clientes aos usuários, passando pela vizinhança impactada pelo empreendimento;órgãos públicos; e legislações múltiplas – cada uma com requisitos diferentes.
“Decorre daí a boa prática de integrar a gestão de projetos com o desenvolvimento do produto e o gerenciamento da produção. Essas duas disciplinas também são fundamentais para o sucesso do empreendimento”, reforça Polito.
A prática tem nos mostrado que empresas que aplicam e têm um grau de maturidade elevado em gerenciamento de projetos nem sempre conseguem atingir o resultado proposto Giulliano Polito
Esta etapa trata de desenvolver um empreendimento que atenda à performance requerida, que seja adequadamente detalhado, fácil de construir e de manter ao longo de sua vida útil. “Estou falando em desenvolver um produto olhando para os requisitos dos stakeholders, para a performance que a edificação deverá ter”, diz.
É preciso pensar em engenharia de valor, ou seja, nas várias alternativas construtivas que sejam coerentes entre si e que poderão agregar valor ao projeto em custo e prazo. E projetar, ainda, o custo total da edificação e não apenas do processo construtivo; sua manutenibilidade – custo e facilidade –, além da vida útil do edifício.
“É comum que problemas que surgem durante o gerenciamento de projetos e na execução tenham origem na concepção do produto”, alerta Polito. Exemplos são os sistemas construtivos que não ‘conversam’ entre si, ou soluções que deveriam ter sido dadas em projeto. Portanto, por melhor que seja o gerenciamento de projetos, se o produto foi concebido com vícios, dificilmente os resultados esperados serão entregues apenas com o controle do processo de construção.
O desenvolvimento de projetos exige a participação de profissionais experientes e com diferentes visões sobre o empreendimento, que se complementam e permitem o desenvolvimento de melhores projetos. “Devemos envolver, além dos profissionais que executarão o projeto, fornecedores, segurança do trabalho, planejamento, orçamento, mestre de obra e projetistas das mais variadas especialidades”, ensina.
É próprio do gerenciamento de projetos limitar-se à apresentação do pacote de trabalho que deve ser executado. O Project Management Body of Knowledge (PMBOK) e todas as boas práticas não entram no detalhe sobre o processo de execução.
“Daí a importância do gerenciamento da produção, outra ponta que vai garantir que o projeto seja, efetivamente, um sucesso”, lembra Polito. A estratégia abrange uma série de atividades, a começar pelo layout adequado do canteiro ao tipo de obra. Deve ser guiado pela eficácia que reduz desperdícios e deslocamentos desnecessários, possibilitando maior velocidade de execução.
Aspecto muito importante na gestão da produção é a previsibilidade. Ou seja, é preciso saber qual é a produtividade de cada uma das etapas. Se uma falhar, ocorrerá o efeito dominó criando verdadeiro caos no canteiro de obras Giulliano Polito
Sempre que possível, o ideal é reduzir as tarefas braçais no canteiro, com o uso de sistemas industrializados, como drywall, steel frame, banheiro pronto. Em qualquer tipo de obra, é preciso valorizar a logística, desde como o fornecedor vai embalar os materiais até a armazenagem e os recursos para o transporte horizontal e vertical em canteiro.
“Aspecto muito importante na gestão da produção é a previsibilidade. Ou seja, é preciso saber qual é a produtividade de cada uma das etapas. Se uma falhar, ocorrerá o efeito dominó criando verdadeiro caos no canteiro de obras”, diz. Polito defende o conceito de Lean Construction, em que o ritmo de produção é igual para todos os pacotes de trabalho, sempre previsível, com a mesma produtividade.
Essas três perspectivas – desenvolvimento do produto, gestão de projetos e gerenciamento de produção – devem ser abordadas em paralelo durante o processo de planejamento. Por exemplo: enquanto a execução está sendo planejada, o gerenciamento de produção constata que, se for utilizada uma laje do embasamento como canteiro e pátio para carga e descarga de caminhões, o resultado será uma grande redução de prazo e custos em logística.
A gerência de produção deve voltar ao início do processo, no desenvolvimento do produto, para averiguar se a carga é suportada pela laje e, se necessário, dimensioná-la para tanto. A estratégia é levada ao gerenciamento de projetos para que avalie os impactos de custo, prazo, qualidade, segurança do trabalho, suprimentos, entre outros aspectos. Assim, o tempo todo a obra estará pensando na metodologia e no projeto, no trabalho que precisa ser feito e na produção, permitindo tomar as melhores decisões para o empreendimento.
A melhor forma de integrar o projeto e a execução é trazer a equipe de produção para contribuir com o desenvolvimento dos projetos. “Dizemos que, ao invés de a equipe de produção receber os projetos, ela deve buscar os projetos junto ao time de projetistas. Esta prática, além de contribuir com a elaboração de soluções mais fáceis do ponto de vista construtivo, também cria um comprometimento da equipe de produção com as soluções adotadas”, finaliza Giulliano Polito.
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Redação AECweb / Construmarket
Giulliano Polito – Graduado em engenharia civil, mestre e doutor em engenharia pela UFMG. Possui MBA Executivo pela FDC; pós-MBA em gerenciamento avançado de projetos pela FGV e Advanced Management Program pela Universityof Navarra; MBA em gestão de negócios pela FGV; pós-graduado em gestão de projetos pelo IETEC; especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pela FUMEC; pós-graduado em tecnologia e gestão da qualidade pelo CEFET-M;, pós-graduado em qualidade e produtividade das construções pela UFMG; pós-graduado em avaliação e perícia pela UFMG; e pós-graduado em gestão de custos pelo IETEC. Atualmente é diretor de Engenharia na BHG. Atua há 20 anos na gestão de grandes projetos de engenharia.
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