BIM e planejamento contribuem para evolução da gestão de projetos

Redação AECweb / Construmarket

---

O planejamento é um processo presente em várias fases do desenvolvimento do empreendimento. No entanto, diante da baixa maturidade em gestão de projetos na construção civil, ele acaba prejudicado. “Isto ocorre desde a etapa de identificação do terreno e das fases subsequentes até chegar no desenvolvimento do projeto. Muitas vezes, não se tem clareza dos objetivos que se quer alcançar. E, também, não é feito o planejamento de integração de todos os processos, para se ter um projeto mais consistente”, alerta a arquiteta Rita Cristina Ferreira, sócia diretora da DWG.

Com o advento do Building Information Modeling (BIM), a gestão de projetos deverá evoluir. “O que representa investir tempo e esforços no planejamento, lembrando que ele deve ser revisitado com frequência”, diz. Cabe ao gerente de projetos, uma vez feito o planejamento, acompanhar e verificar o que mudou, informando a todos os intervenientes.

É fato que o planejamento inicial não seguirá, necessariamente, constante ao longo de todo o processo. “Afinal, é comum que ocorram problemas, como as questões políticas e econômicas do país, que afetam diretamente o longo desenvolvimento do produto da construção”, observa a arquiteta.

AÇÕES

A especialista destaca que há uma série de ações possíveis para garantir um bom planejamento. “Na fase inicial, muitas vezes faltam informações suficientes para se chegar a um custo mais apurado. É frequente a elaboração do orçamento com base nas tecnologias construtivas que a construtora domina. Porém, esse histórico também carrega falhas, o que traz grandes divergências no momento da execução do novo empreendimento”, observa Rita Ferreira.

Ela ilustra com um caso em que atuou como coordenadora dos projetos técnicos. Tratava-se de um empreendimento residencial de alto padrão, com arquitetura não convencional. “Aparentemente havia um planejamento e um orçamento prontos. Ao analisar essas informações, fiquei surpresa com o baixo valor aplicado. E, de fato, a equipe da construtora partiu de premissas equivocadas, utilizando dados genéricos de projetos arquitetônicos convencionais. Isto fragilizou o planejamento e afetou o custo, que triplicou assim que começamos a detalhar o projeto”, conta, dizendo que o incorporador desconhecia as características do produto e seu real custo.

Esse tipo de erro resulta da falta de ferramentas na elaboração de um planejamento mais assertivo nas fases iniciais, de maneira a evitar grandes alterações futuras. ”Afinal, mudanças sempre ocorrem, porém, triplicar o preço já é um erro de planejamento muito grande”, observa.

A recomendação da arquiteta é o emprego do BIM, ferramenta que possibilita integrar as informações nos estudos iniciais com maior precisão em comparação às tecnologias convencionais de projeto, e, ainda, chegar a custos mais realistas. “É bom lembrar que, ao utilizar o BIM, muda-se a forma de gerenciamento do projeto de construção”, completa.

Por falta de informações suficientes vindas do incorporador, os projetistas técnicos acabam incidindo em erros. Ainda pior quando não dispõem de informações das demais disciplinas de projeto e têm que trabalhar apenas em cima do arquitetônico. “Muitas vezes, a arquitetura projeta coisas que são inviáveis tecnicamente. Aí começam a aparecer as modificações, e o que foi planejado na fase inicial não serve mais”, destaca. Ou seja, o modelo atual de gestão de projetos tem ainda um foco muito expressivo na forma arquitetônica.

Portanto, é ação fundamental contratar todos os projetos técnicos ainda na fase inicial. Em geral, isto não ocorre, pois são considerados meros detalhes, ao contrário da valorização dada ao projeto de arquitetura e suas formas. “Em outros setores da economia, todos os projetistas trabalham simultaneamente para garantir a viabilidade do produto em desenvolvimento”, diz.

 

Baixe nosso Kit de Conteúdo sobre BIM e entenda mais sobre essa metodologia que é o futuro da construção civil.

EXECUÇÃO

Há, ainda, importante lacuna no planejamento voltado à execução da obra. O projeto de alvenaria, uma das especialidades de Rita Ferreira, detalha a execução da parede. “Uma obra deve ser suportada por projetos detalhados de todos os sistemas que serão construídos. Porém, tudo é planejado muito superficialmente, com pequeno número de projetos de produção. Os problemas acabam estourando no canteiro, quando tudo poderia ter sido resolvido previamente”, afirma.

O efeito dominó dessa trajetória vai resultar em patologias, como infiltrações e rachaduras, gerando reclamações junto às construtoras. E uma consequência extrema da falta de planejamento são os processos judiciais por parte dos compradores do empreendimento.

A arquiteta reforça que o uso do BIM permite simular a produção do edifício, desde as quantidades de materiais a comportamentos do uso da construção. “Já vi o engenheiro sair de obra para comprar uma peça na loja da esquina. Essa falta de planejamento é inconcebível e colabora para a baixa produtividade e aumento de custo”, comenta.

Quando a situação ocorre com atividade do subempreiteiro, que não é responsável pela compra de material, sua equipe fica parada até a chegada do material. “Ele, por sua vez, também procura terceirizar a mão de obra. Assim, o planejamento, que deveria ser ação do mais alto nível, de quem define o produto da construção, resulta em problemas que são empurrados cada vez mais para baixo da cadeia, até chegar no operário”, sublinha.

Rita Ferreira finaliza ressaltando que a falta de planejamento reflete a baixa maturidade em gestão de projetos da construção, sendo que essa não é uma prerrogativa apenas do setor no Brasil. “Só que em outros países eles estão tentando introduzir tecnologias para resolver esses problemas. Ainda há muito espaço para a gestão evoluir e reduzir custos da construção.”

COLABORAÇÃO TÉCNICA

Rita Ferreira – Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), com mestrado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). É doutoranda em Arquitetura no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP de São Carlos. Sócia e Diretora – DWG Arquitetura e Sistemas desde 1994. Tem experiência na área de Construção de Edifícios, com ênfase em Tecnologia da Informação aplicada a projeto e construção, Coordenação Técnica de Projetos para construção, desenvolvimento de Projetos de Produção, Gestão de Projetos de inovação, atuando principalmente com as seguintes abordagens e ferramentas: CAD 3D, Modelagem da Informação na Construção (BIM), Modelagem de Processos de Negócio (BPM), UML (UnifiedModellingLanguage) e RUP (RationalUnifiedProcess).

Leia também:

Engenharia simultânea e BIM ajudam gestão de projetos

Qualidade da obra começa na gestão de projetos