BIM (Modelagem de Informação da Construção, do inglês Building Information Modeling) é uma tecnologia utilizada por profissionais da arquitetura e construção, especialmente para a gestão de projetos. De acordo com o engenheiro Eduardo Toledo Santos, professor doutor da Escola P
olitécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), o BIM é mais que um software, é um processo.
Isso explica por que a transição do CAD para o BIM não é tão simples, exigindo alteração da forma de trabalhar dos escritórios e da forma de coordenar os projetos. “Simplesmente trocar um pelo outro é a receita para o fracasso”, alerta o profissional.
“O BIM simplifica consideravelmente a tarefa de compatibilização de projetos ao detectar interferência entre eles, a partir dos modelos tridimensionais. É preciso, porém, saber identificar quando se trata realmente de interferência, porque o computador mostra inúmeras delas, e, na verdade, elas podem não passar de pequenos erros, nada relevantes”, explica.
O BIM fomenta a colaboração. Mas, para que um projetista possa colaborar com outro, é preciso que haja entendimento mútuo das funções. ” Eduardo Toledo
O BIM ajuda o gestor de projetos na comunicação aos projetistas sobre as alterações necessárias, por meio do protocolo BCF (Bim Colaboration Format).
“Trata-se de um novo padrão lançado já há algum tempo, que permite ao coordenador indicar no próprio programa o que deve ser resolvido. O arquivo é enviado para o projetista responsável por aquela modificação, e o modelo é aberto na posição exata para a correção. Depois, o projetista ainda registra o que foi feito e envia para o coordenador. Esse protocolo fica rastreável, e o trabalho prático e ágil”, explica.
O processo BIM reduz os problemas de comunicação próprios da gestão de projetos e, por operar em 3D, facilita a visualização. “Na verdade, ele fomenta a colaboração. Mas, para que um projetista possa colaborar com outro, é preciso que haja entendimento mútuo das funções. Muitas vezes, as representações esquemáticas padronizadas são muito abstratas. Um projetista de instalações, por exemplo, pode não estar tão familiarizado com uma planta de fôrma de estrutura. Ele pode olhar e achar que é uma viga invertida. Se o projetista não entende o que o outro está projetando, não irá conseguir ajudar ou perceber que há um problema, ou ajustar o projeto
para que fique compatível com o do outro”, ressalta.
De uso mais sofisticado, há
ainda o recurso de verificação de regras. Para explicar, Toledo usa o exemplo: “Uma incorporadora que trabalha seus empreendimentos de forma padronizada – por exemplo, com paredes de espessura determinada, assim como o pé-direito, e banheiros com layout único –, quer verificar se os projetistas estão seguindo suas regras. Com o sistema BIM é possível codificar essas regras e acompanhar a sua adoção pelos projetos”.
Segundo ele, o sistema permite, também, ter uma rotina de verificações de qualidade ao solicitar que cada componente tenha certas informações válidas, como o código de classificação do elemento para saber se aquilo é uma viga, um joelho de hidráulica ou uma parede – dados que serão utilizados ainda para orçamento e outros fins.
O BIM pode ser usado para os ajustes dos projetos na fase de estimativa de custos, chegando-se ao valor-alvo do cliente. ” Eduardo Toledo
BIM e sua verificação automática de qualidade
Os aplicativos BIM têm o recurso de copy paste, que permite ao profissional copiar certas partes da edificação para outros lugares. Ocorre que, se ele colar uma sobre a outra, podem aparecer duas lajes, uma dentro da outra, sem que ele perceba. Ele só vai identificar a sobreposição quando quantificar o volume de concreto, porque o software vai contar duas vezes.
“Dentro desse processo, a verificação automática de qualidade beneficia tanto os projetistas quanto o coordenador de projetos”, diz Santos, acrescentando que é muito melhor do que analisar desenhos em CAD 2D em busca de problemas, pois a representação é totalmente abstrata e sem semântica.
“O significado está na cabeça dos projetistas, e para o computador é um amontoado de linhas”. Já o BIM carrega essa semântica, o computador sabe que uma viga é uma viga, uma laje é uma laje e, assim por diante. “Assim, ele entende o modelo e pode desenvolver uma série de ações úteis para a coordenação de projetos”, arremata.
O modelo tridimensional é de grande ajuda na geração dos projetos executivos, de forma semiautomática. Se uma alteração é feita no modelo, os desenhos são todos atualizados. A qualidade da documentação aumenta muito.
“O BIM pode ser usado para os ajustes dos projetos na fase de estimativa de custos, chegando-se ao valor-alvo do cliente”, afirma. E, ainda, é entrada para aplicativos de simulações de desempenho energético e acústico do edifício, sustentabilidade, impacto ambiental, entre outros.
OPÇÃO PARA PROJETOS MAIORES
O BIM passa a ter valor maior em edificações mais complexas, como os hospitais. Projetos de plantas industriais, como as químicas ou as hidrelétricas, há muito tempo utilizam softwares próprios mais antigos. Já nos projetos de edifícios residenciais, que são mais simples, dificilmente o programa será necessário, pois o próprio projetista conseguirá identificar os problemas, por estar bastante acostumado ao trabalho. Ainda não há pesquisas que mostrem o quanto o setor da construção civil aderiu ao BIM, mas o Brasil não está muito atrasado nessa área. “Não podemos dizer que é prática comum do mercado, estamos um pouco longe disso ainda”, finaliza Toledo. ”
Redação AECweb / Construmarket
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Eduardo Toledo Santos – Engenheiro eletricista, mestre em Engenharia de Sistemas Digitais e doutor em Engenharia Eletrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP). Professor doutor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da (POLI-USP), onde ministra aulas de graduação e pós-graduação e pesquisa na área de Tecnologia da Informação para Construção.
É diretor da International Society for Geometry and Graphics (ISGG), Coordenador Adjunto da ABNT/CEE134 – Comissão Especial de Estudos sobre Modelagem de Informação da Construção (BIM) da ABNT, membro do ASCE (American Society of Civil Engineers) Global Center of Excellence in Computing, membro alternativo do Board of Director da International Society for Computing in Civil and Building Engineering e membro da Comissão W78 (IT in Construction)do CIB – International Council for Research and Innovation in Building and Construction.
Coordenador adjunto do GT.TIC da ANTAC, líder do Grupo de Tecnologia Computacional para a Construção Civil da POLI-USP e coordenador geral da Rede FINEP/TICHIS. É professor do Programa de Mestrado Profissional em Inovação na Construção, da Especialização em Gestão de Projetos na Construção e do MBA-USP em Gerenciamento de Facilities. É consultor de estratégia para implementação de BIM e publicou mais de 150 artigos em periódicos e conferências nacionais e internacionais.